It's a one time thing
It just happens a lot

Suzanne Vega

sábado, 27 de maio de 2017

Farewell to Moore

Bond há só um, Sean Connery e mais nenhum.
Mas Roger Moore, que se lhe seguiu entre 1973 e 1985, também tinha o seu charme, e teve a sorte de interpretar o agente 007 numa altura em que a série ainda era bem-disposta e politicamente incorrecta. Um dos filmes que o recentemente falecido sir britânico "estrelou" foi Octopussy (só o trocadilho com o octópode marinho e o calão para as partes baixas femininas é deliciosamente brejeiro), de 1983, e que tem como tema principal All time high, da irrepreensível Elkie Brooks. Muita gente coloca-o entre os piores temas de Bond, mas eu não podia estar mais em desacordo. Tem uma maravilhosa dinâmica entre os versos quase sussurrados e o refrão elevadíssimo, a melodia é adorável, e apresenta pormenores deliciosos como o saxofone na introdução e a batida dupla no bombo, bem como o arranjo de cordas no refrão. "Back to the 80's, let's go!" E.M.

Elkie Brooks, All time high (1983)  


quarta-feira, 24 de maio de 2017

Efeito Manchester

Era previsível. O facto de o atentado ter acontecido numa sala de espectáculos levou à histeria e à tentação securitária. Na própria noite, ainda sequer sem se saber se era atentado ou acidente, já um "especialista" perorava num dos canais da TVI que era necessário considerar as salas e estádios de concertos como locais de confronto, pois, e estou a recorrer à memória, o facto de os presentes serem jovens não significa que não sejam perigosos e temos que os ter no radar de vigilância. Perdão?
Depois, veio a confirmação de que o exército britânico, armado, vai marcar presença nos espectáculos.
E por cá, segundo notícia do Público, um promotor de espectáculos, que (avisadamente) não quis ser identificado, diz que tem que se "agilizar a lei" para permitir que os seguranças nos concertos possam revistar à vontade os espectadores, e não apenas, como acontece até agora, e bem, apenas os polícias o possam fazer. Junte-se a isto, também no Público, a indicação de que vão ser colocadas barreiras de cimento nos acessos aos festivais de Verão em Portugal, e já se vê os níveis de imbecilidade a subirem.
A verdade é que estas medidas são vitórias dos terroristas. Os fãs dos cortes das liberdades, da vigilância da sociedade, do controlo da diversão, os vendedores de equipamentos de segurança, chamam um figo a todas estas medidas tendencialmente irrelevantes. Se um bombista quiser, consegue. 
Por outro lado, não creio que qualquer fã de música queira ser assediado por um segurança ignorante - sejamos claros: a Europa (ainda) não é os Estados Unidos, onde a cultura de violência e intimidação das empresas de segurança privadas, fortemente armadas e inimputáveis, podem, e fazem-no, espancar um espectador e atirá-lo para fora da sala só porque não gostaram da sua atitude.
Em resumo: segurança, sim, mas mínima, a cargo da polícia, e longe dos locais. Seguranças sem armas - são trabalhadores iguais a quaisquer outros, sem mais direitos. Agradece quem gosta de assistir calmamente a um bom concerto. E.M.   

sexta-feira, 19 de maio de 2017

Música a música (Song to song) TERRENCE MALICK

Cinema El Corte Inglés, Amoreiras e Vasco da Gama (Lisboa) e Oeiras Parque (Oeiras)
Pelo menos até à próxima quarta-feira, dia 24 de Maio



O anti-La La Land, basicamente. O protagonista é o mesmo - Ryan Gosling, a fazer quase a mesma personagem, um músico perturbado à procura de sucesso numa cidade americana, neste caso Austin, Texas, dona de uma vibrante comunidade musical e de um dos mais importantes festivais a nível global. Nas cores, são ambos deslumbrantes. Mas as semelhanças terminam aqui. Em Song to Song estamos em terrenos tristes, negros, niilistas e obcecados.
O realizador Terrence Malick regressa às suas figuras de estilo. Longos planos, muito silêncio, muito espaço livre de seres humanos, muitas sequências que vivem de uma semi-improvisação que leva os corpos a cirandar fantasmagoricamente pelos apartamentos e moradias de luxo texanas. Rooney Mara é a jovem perdida que se apaixona por Gosling, mas não deixa de manter um caso com o seu proto-sádico ex-patrão Michael Fassbender, amigo e mentor de Gosling, que casa com uma surpreendente Natalie Portman, envelhecida e desesperada. Um triângulo amoroso que é apenas um pretexto para as divagações em voz off, que acabam por nos despistar mais do que explicam.
Em resumo: poderia ser The Thin Red Line, do mesmo Malick em 1998, mas em terra e com figuras femininas. Um fresco imenso, visualmente brilhante, interpelante, mas com um vazio (como o das personagens?) desconfortável. Um filme que, simultaneamente, nos extasia, nos perplexa, nos entedia e nos aborrece. É obra. 
Uma última palavra para a banda sonora, vasta e abrangente, desde o tex-punk e as baladas neogóticas até música sacra coral. E outra para as muito breves aparições de nomes conhecidos do mundo musical, como os Red Hot Chili Peppers, Iggy Pop ou Patti Smith. E.M.




Música a música (Song to song), Terrence Malick (2017)


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