It's a one time thing
It just happens a lot

Suzanne Vega

segunda-feira, 28 de agosto de 2017

VILAR DE MOUROS - UM BALANÇO


Do primeiro dia, 24 de Agosto (quinta-feira), apenas, do festival minhoto. Do melhor para o pior:

The Young Gods. O trio suíço arrasou. Começando com temas mais calmos do seu lado ambient/atmosférico, foram subindo as rotações e os decibéis, passando por versões aumentadas, melhoradas e diversificadas de temas da sua longa carreira. Formação canónica - bateria, teclas/samplers e voz/guitarra, neste último caso a cargo do "presidente da junta", Franz Treichler, que conseguiu juntar as pontas teatrais e musicais, esconjurando imagens alternadamente bucólicas e industriais. E os samplers de guitarras (uma pedrada no charco nos anos 80) continuam com uma potência e um mistério únicos.  

The Jesus and Mary Chain. Regresso dos escoceses irmãos Reid, William e Jim (não confundir com Charlie e Craig Reid, irmãos escoceses que compõem os Proclaimers, também muito estimados aqui pelo blogue). Na versão mais habitual dos últimos anos - Jim na voz, William na guitarra, mais bateria, baixo e segunda guitarra -, atacaram logo com Amputation, o tema de ponta do último de originais Damage and Joy, passaram aos êxitos (April skies, Head on), agradaram aos fãs com Some candy talking, e no final, dado que neste dia também estava no cartaz Bobby Gillespie (vocalista dos Primal Scream), que foi o baterista em Psychocandy (1985), o álbum de estreia dos JAMC, chamaram ao palco o amigo, que bateu desalmadamente na tarola em Just like honey, The living end e Never understand. Bem aproveitado, culminando uma apresentação em que os delírios de efeitos foram suplantados pela força sónica e pelas melodias. 

The Veils. Os (relativamente) "jovens" do alinhamento abriram as hostilidades (20 horas) ainda com sol e pouca gente frente ao palco. Quando acabaram era noite, e muitos espectadores que chegaram tinham ficado convencidos da boa vontade do projecto liderado por Finn Andrews. Quanto a mim, reconheço o empenho, a procura de novas avenidas líricas, um certo desprezo pelas regras do bem tocar que são charmosos, mas o template é muito curtinho, e fica-se com a impressão de que lhes falta algo para dar o salto. Talvez mais experiência de vida e de infelicidade. Afinal, não é Nick Cave quem quer... 

The Mission. Tinha muitas expectativas para rever os Mission, sobreviventes das vagas góticas dos anos 80. Defraudadas é a palavra. Outra palavra: "flat". Uma actuação sem altos nem baixos, com os êxitos da praxe (Wasteland, Tower of strenght, Severina), mas com arranjos anódinos, um som abafado, e um Wayne Hussey (o líder, vocalista e guitarrista que é os The Mission) sem chama, mais interessado na garrafa de tinto que ia bebendo entre os temas. Deve ser influência dos compadres brasileiros, pois ele nos dias que corre vive em São Paulo. Destaque para Met-Amor-Phosis, de 2016, numa versão a fazer lembrar... os Sisters of Mercy. Para quem não se lembra: Wayne Hussey e Carl Craig (baixo) faziam parte dos Sisters, mas aborreceram-se com Andrew Eldritch e saíram para formar os Mission. E uma palavra para Mike Kelly, o baterista, um verdadeiro metrónomo humano. Devia arranjar uma banda mais interessante... 

Primal Scream. Quando um grupo tem que interromper o seu primeiro tema e ir pedir um amplificador de guitarra aos amigos Jesus and Mary Chain, as perspectivas para o resto do set não são as melhores - e confirmaram-se. Vejamos: Bobby Gillespie nunca teve grande voz, mas em Vilar de Mouros esteve abaixo de quaisquer níveis aceitáveis, de projecção, de afinação... E depois de décadas de palco já devia saber que quando se mexe a cabeça tem que acompanhar o movimento com o braço do microfone... A versão dos Primal Scream que esteve no Minho foi de economia rasca, de elementos díspares que não se ligavam. O guitarrista (mesmo assim o melhorzinho da pandilha) parecia vindo de uma banda de covers num paquete de cruzeiros, a secção rítmica tocava cada um para seu lado (ó Mani, por que regressaste aos Stone Roses? Colocaram no teu lugar uma jovem que não tem qualquer groove a tocar o baixo), o baterista errático. Um som péssimo. E os temas de Screamadelica, esse monumento de dança dos anos 90, perderam toda a beleza e pujança em palco. Para esquecer. E.M.  


The Jesus and Mary Chain, Just like honey (c/ Bobby Gillespie), 24 de Agosto de 2017


*com agradecimentos a Paul Chicharo, Youtube

terça-feira, 22 de agosto de 2017

EM ESTÁGIO PARA VILAR DE MOUROS

O velhinho Festival de Vilar de Mouros, mesmo pertinho do rio Minho e da Galiza, continua a reinventar-se, aumentando e especializando-se em nomes e sonoridades, digamos, veteranas. O ano passado teve, por exemplo, uma portentosa estreia no país - Orchestral Manouevres in the Dark.
Este ano os três dias de música (24, 25 e 26 de Agosto, ou seja, quinta a sábado) estão desequilibrados, os interessante são os das pontas, e na impossibilidade de estar quatro dias no local, a opção lógica é deixar cair 26 (com Morcheeba, Psychedelic Furs e Boomtown Rats) e 25 (Dandy Warhols), e apostar na abertura, que tem um alinhamento de respeito. A saber, e já com horários:

20h - The Veils
21h - The Young Gods
22h20 - The Mission
23h50 - The Jesus and Mary Chain
1h20 - Primal Scream

Indie rock, gótico, acid, industrial, ou seja, uma colectânea do melhor das sonoridades alternativas dos anos 89 e 90. Encontramo-nos lá. E.M.


Rocks, Primal Scream (1994)





terça-feira, 8 de agosto de 2017

TÓ SEMEDO  KA BU BAI

Cabo Verde é uma nação baseada na cultura e especialmente na música. Tudo canta, tudo toca, tudo dança. Num mundo tão vasto, a dificuldade é por onde começar. Assim de repente, surgiu-me Tó Semedo. Muito ligado à (tão injustamente vilipendiada) kizomba, parece-me que o cantor é bem mais do que isso. Há uma sensibilidade e uma doçura e uma maleabilidade na sua voz que, juntamente com uma bela produção, elevam este Ka bu bai (em português, "não te vás embora") a outro nível. E.M. 


Ka bu bai, Tó Semedo (2015)


domingo, 23 de julho de 2017

Morte, grunge e etc.

Parece que os excessos dos anos 90 estão a cobrar dividendos mortais. Os principais expoentes do grunge, para além do maior de todos, Kurt Cobain (Nirvana), logo em 1994, e não esquecendo Andrew Wood (dos Mother Love Bone, que iriam desembocar nos Pearl Jam), começaram a desaparecer de forma violenta nos últimos tempos. 
Primeiro foi Scott Weiland (Stone Temple Pilots e Velvet Revolver), em Dezembro de 2015; depois Chris Cornell, dos Soundgarden e Audioslave, em Maio deste ano; e agora Chester Bennington, dos Linkin Park, na última quarta-feira, 20 de Julho. 
Durante muito tempo pensei que as lições da "turma dos 27" (Janis Joplin, Jim Morrison, Jimi Hendrix), no início da década de 70, tinham de vez ensinado os colegas vindouros sobre o que não fazer e os cuidados a tomar. Mas parece que os prazeres das substâncias continuam a suplantar os avisos... Por muito que eles digam que estão limpos, é muito fácil uma recaída, e o corpo já não tem 20 anos. Se eu fosse o Eddie Vedder tinha muito cuidadinho... E.M.

quinta-feira, 20 de julho de 2017

THE PRETENDERS  
É APENAS ROCK'N'ROLL, E É MUITO

The Pretenders
19 de Julho de 2017 (quarta-feira)
EDP Cool Jazz 
Oeiras, Parque dos Poetas
22h30
(primeira parte: Rita Redshoes)

God damned! Isto sim, foi um concertaço. Os Pretenders não vinham cá ao burgo há quase vinte anos, mas não desiludiram. A veterana banda rock inglesa (se bem que liderada pela vocalista norte-americana Chrissie Hynde) teve os seus dias de glória nos finais dos anos 70 e durante a década seguinte, com êxitos com Brass in pocket ou Don't get me wrong. E se ontem esse sucessos algo pop-rock foram, como disse Chrisse, "despachados", o geral do alinhamento foi rock'n'punk sem mariquices nem grandes penachos técnicos. Versões curtas, poucos solos, muita guitarrada distorcida (grande achado em James Walbourne na guitarra-solo), tudo a viajar à vista da capitã Hynde,que comandava a banda com um pé no casual e outro na dama de ferro. Como ela bem disse, numa das muitas interacções com o público: "Vamos tocar uma canção rock. Bem, só vamos tocar rock!"

Na bateria esteve, como sempre desde há 35 anos, Martin Chambers. Kid foi dedicada a James Honeyman-Scott e Peter Farndon, os outros dois elementos originais, ambos falecidos muito prematuramente por overdose. Belas interpretações de Stop your sobbing e I go to sleep, compostas por Ray Davies (The Kinks), o primeiro marido de Hynde. E incendiárias aparições de Thumbelina e Precious, esta já no encore.
E a voz, perguntam? Para uma senhora de 65 anos, esteve muito bem, colocando como deve ser o seu estilo lânguido-furioso (e a sua guitarra-ritmo) a reboque da batida de Chambers. Pode nunca ter tido a melhor voz do mundo, mas é inconfundível e conseguiu que as agruras da vida não lhe afectassem muito as cordas vocais. 

O estádio do Parque dos Poetas não estava muito mais do que meio, e a noite algo agreste, mas os entusiastas reagiram bem à energia que vinha do palco, num concerto que passou num ápice (apesar de ter começado bem tarde, pois ainda actuou a portuguesa Rita Redshoes, que parece sempre esforçar-se muito para alcançar resultados medianos). Uma pergunta: não se pode exterminar os "paus de luz" que o merchandising da EDP andava a distribuir? Parecia uma rave psicadélica... 

Chrissie é uma danada para a brincadeira, mas não é se de brincar com ela, manteve tudo forte e agressivo mas com bom coração. Ou seja: o coração do rock já entradote esteve aqui, e não, por exemplo, na actuação "macdonaldizada" dos Guns 'n' Roses há mês e meio em Algés.
E tudo apenas por 25 euros. Pechincha do ano. E.M.




terça-feira, 18 de julho de 2017

CORO INFANTO-JUVENIL
DA UNIVERSIDADE DE LISBOA

No último sábado fui à Aula Magna da Universidade de Lisboa assistir a um grande concerto com pequenos cantores: Mecanik, duas horas de um extenso e variado reportório a assinalar os 12 anos de actividade do Coro Infanto-Juvenil da Universidade de Lisboa. O projecto, liderado desde o início por essa força da Natureza que é a maestrina Erica Mandillo, é um dos mais consistentes em Portugal, aumentando em número de cantores, em projecção internacional, e mantendo sempre a fasquia qualitativa alta, e buscando composições em muitas latitudes e autores. Daqui já saíram meninos e meninas para começarem carreiras. Muitos cantam, e bem, apenas pelo prazer de cantar em conjunto. Junto um clipe mais antigo (2012), na Suíça, com Dormi menino dormi, tradicional da ilha de São Jorge, Açores, com arranjo de Fernando Lopes Graça. E.M.

Quem quiser saber mais, nomeadamente se tiver filhos com vontade de cantar, pode informar-se aqui.


Coro Infanto-Juvenil da Universidade de Lisboa
Dormi menino dormi (2012)


segunda-feira, 10 de julho de 2017

JOÃO GIL POR... 
TANTO QUE LHE DEVEMOS

João Gil por... é um CD duplo em que o dito João Gil pega em canções da sua longa e proveitosa carreira, convida amigos, admiradores e admirados, e juntos fazem versões com novos arranjos. João Gil, para quem tem andado com os ouvidos tapados nas últimas décadas, é um dos mais prolíficos compositores (e guitarristas, e produtores) de Portugal - foi pedra-base nos Trovante, na Ala dos Namorados, nos Rio Grande, nos Cabeças no Ar, nos Tais & Quais, no Baile Popular, etc.
Ou seja, aqui o difícil seria a escolha, tal o baú de preciosidades e de amigos e colegas dispostos a embarcar na aventura. Dos 28 temas (na versão mais alargada), ficam no ouvido:
- 125 azul, numa pintura mais moderna, com um arranjo inovador, juntando uma surpresa, a voz de Carlão, vindo da área do hip-hop, em primeira plano em registo de spoken word, e a (creio que minha prima afastada) Lúcia Moniz, a fazer a melodia em segundo plano. Melhor do que o original, em que a voz de Luís Represas sempre me pareceu um pouco... flat
- Rosa albardeira, muito bem adaptada ao registo intimista e acústico de António Zambujo.
- História do Zé Passarinho. Que grande bofetada em alguns sectores bem-pensantes, o inesperado convite a Quim Barreiros e Herman José, que transformam o primeiro êxito da Ala dos Namorados numa festa com um pé no Minho e outro em Lisboa, mostrando a velhacaria e sabedoria de outros mundos vocais.
Ainda uma menção honrosa para o inédito Credo, que se por um lado mostra as limitações vocais de João Gil, também ilumina muito do que o transformou num marco da música nacional: grande dedo para a melodia, percepção da instrumentação e do espaço na canção, e a escolha judiciosa de poetas e letristas, neste caso a imensa Natália Correia. 
Bem-hajam todos os que embarcaram nesta aconchegante viagem. E.M.




João Gil com Carlão e Lúcia Moniz, 125 azul (2017)