It's a one time thing
It just happens a lot

Suzanne Vega

domingo, 23 de julho de 2017

Morte, grunge e etc.

Parece que os excessos dos anos 90 estão a cobrar dividendos mortais. Os principais expoentes do grunge, para além do maior de todos, Kurt Cobain (Nirvana), logo em 1994, e não esquecendo Andrew Wood (dos Mother Love Bone, que iriam desembocar nos Pearl Jam), começaram a desaparecer de forma violenta nos últimos tempos. 
Primeiro foi Scott Weiland (Stone Temple Pilots e Velvet Revolver), em Dezembro de 2015; depois Chris Cornell, dos Soundgarden e Audioslave, em Maio deste ano; e agora Chester Bennington, dos Linkin Park, na última quarta-feira, 20 de Julho. 
Durante muito tempo pensei que as lições da "turma dos 27" (Janis Joplin, Jim Morrison, Jimi Hendrix), no início da década de 70, tinham de vez ensinado os colegas vindouros sobre o que não fazer e os cuidados a tomar. Mas parece que os prazeres das substâncias continuam a suplantar os avisos... Por muito que eles digam que estão limpos, é muito fácil uma recaída, e o corpo já não tem 20 anos. Se eu fosse o Eddie Vedder tinha muito cuidadinho... E.M.

quinta-feira, 20 de julho de 2017

THE PRETENDERS  
É APENAS ROCK'N'ROLL, E É MUITO

The Pretenders
19 de Julho de 2017 (quarta-feira)
EDP Cool Jazz 
Oeiras, Parque dos Poetas
22h30
(primeira parte: Rita Redshoes)

God damned! Isto sim, foi um concertaço. Os Pretenders não vinham cá ao burgo há quase vinte anos, mas não desiludiram. A veterana banda rock inglesa (se bem que liderada pela vocalista norte-americana Chrissie Hynde) teve os seus dias de glória nos finais dos anos 70 e durante a década seguinte, com êxitos com Brass in pocket ou Don't get me wrong. E se ontem esse sucessos algo pop-rock foram, como disse Chrisse, "despachados", o geral do alinhamento foi rock'n'punk sem mariquices nem grandes penachos técnicos. Versões curtas, poucos solos, muita guitarrada distorcida (grande achado em James Walbourne na guitarra-solo), tudo a viajar à vista da capitã Hynde,que comandava a banda com um pé no casual e outro na dama de ferro. Como ela bem disse, numa das muitas interacções com o público: "Vamos tocar uma canção rock. Bem, só vamos tocar rock!"

Na bateria esteve, como sempre desde há 35 anos, Martin Chambers. Kid foi dedicada a James Honeyman-Scott e Peter Farndon, os outros dois elementos originais, ambos falecidos muito prematuramente por overdose. Belas interpretações de Stop your sobbing e I go to sleep, compostas por Ray Davies (The Kinks), o primeiro marido de Hynde. E incendiárias aparições de Thumbelina e Precious, esta já no encore.
E a voz, perguntam? Para uma senhora de 65 anos, esteve muito bem, colocando como deve ser o seu estilo lânguido-furioso (e a sua guitarra-ritmo) a reboque da batida de Chambers. Pode nunca ter tido a melhor voz do mundo, mas é inconfundível e conseguiu que as agruras da vida não lhe afectassem muito as cordas vocais. 

O estádio do Parque dos Poetas não estava muito mais do que meio, e a noite algo agreste, mas os entusiastas reagiram bem à energia que vinha do palco, num concerto que passou num ápice (apesar de ter começado bem tarde, pois ainda actuou a portuguesa Rita Redshoes, que parece sempre esforçar-se muito para alcançar resultados medianos). Uma pergunta: não se pode exterminar os "paus de luz" que o merchandising da EDP andava a distribuir? Parecia uma rave psicadélica... 

Chrissie é uma danada para a brincadeira, mas não é se de brincar com ela, manteve tudo forte e agressivo mas com bom coração. Ou seja: o coração do rock já entradote esteve aqui, e não, por exemplo, na actuação "macdonaldizada" dos Guns 'n' Roses há mês e meio em Algés.
E tudo apenas por 25 euros. Pechincha do ano. E.M.




terça-feira, 18 de julho de 2017

CORO INFANTO-JUVENIL
DA UNIVERSIDADE DE LISBOA

No último sábado fui à Aula Magna da Universidade de Lisboa assistir a um grande concerto com pequenos cantores: Mecanik, duas horas de um extenso e variado reportório a assinalar os 12 anos de actividade do Coro Infanto-Juvenil da Universidade de Lisboa. O projecto, liderado desde o início por essa força da Natureza que é a maestrina Erica Mandillo, é um dos mais consistentes em Portugal, aumentando em número de cantores, em projecção internacional, e mantendo sempre a fasquia qualitativa alta, e buscando composições em muitas latitudes e autores. Daqui já saíram meninos e meninas para começarem carreiras. Muitos cantam, e bem, apenas pelo prazer de cantar em conjunto. Junto um clipe mais antigo (2012), na Suíça, com Dormi menino dormi, tradicional da ilha de São Jorge, Açores, com arranjo de Fernando Lopes Graça. E.M.

Quem quiser saber mais, nomeadamente se tiver filhos com vontade de cantar, pode informar-se aqui.


Coro Infanto-Juvenil da Universidade de Lisboa
Dormi menino dormi (2012)


segunda-feira, 10 de julho de 2017

JOÃO GIL POR... 
TANTO QUE LHE DEVEMOS

João Gil por... é um CD duplo em que o dito João Gil pega em canções da sua longa e proveitosa carreira, convida amigos, admiradores e admirados, e juntos fazem versões com novos arranjos. João Gil, para quem tem andado com os ouvidos tapados nas últimas décadas, é um dos mais prolíficos compositores (e guitarristas, e produtores) de Portugal - foi pedra-base nos Trovante, na Ala dos Namorados, nos Rio Grande, nos Cabeças no Ar, nos Tais & Quais, no Baile Popular, etc.
Ou seja, aqui o difícil seria a escolha, tal o baú de preciosidades e de amigos e colegas dispostos a embarcar na aventura. Dos 28 temas (na versão mais alargada), ficam no ouvido:
- 125 azul, numa pintura mais moderna, com um arranjo inovador, juntando uma surpresa, a voz de Carlão, vindo da área do hip-hop, em primeira plano em registo de spoken word, e a (creio que minha prima afastada) Lúcia Moniz, a fazer a melodia em segundo plano. Melhor do que o original, em que a voz de Luís Represas sempre me pareceu um pouco... flat
- Rosa albardeira, muito bem adaptada ao registo intimista e acústico de António Zambujo.
- História do Zé Passarinho. Que grande bofetada em alguns sectores bem-pensantes, o inesperado convite a Quim Barreiros e Herman José, que transformam o primeiro êxito da Ala dos Namorados numa festa com um pé no Minho e outro em Lisboa, mostrando a velhacaria e sabedoria de outros mundos vocais.
Ainda uma menção honrosa para o inédito Credo, que se por um lado mostra as limitações vocais de João Gil, também ilumina muito do que o transformou num marco da música nacional: grande dedo para a melodia, percepção da instrumentação e do espaço na canção, e a escolha judiciosa de poetas e letristas, neste caso a imensa Natália Correia. 
Bem-hajam todos os que embarcaram nesta aconchegante viagem. E.M.




João Gil com Carlão e Lúcia Moniz, 125 azul (2017)