It's a one time thing
It just happens a lot

Suzanne Vega

quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

LAURIE ANDERSON Heart of a dog

Cinema Nimas
Avenida 5 de Outubro, 42 LISBOA
Sessões às 13h45, 15h45, 17h45, 19h45 e 21h45



Magistral filme de Laurie Anderson.
Parte documentário, parte diário, parte ensaio, parte ficção, parte memórias.
Os temas são aqueles que lhe são mais queridos: os sonhos, a consciência, as tragédias, a vigilância, as novas tecnologias. O espaço entre o momento que acabou de passar e o que está exactamente para chegar.
As imagens e a sua voz-off e a sua banda sonora revelam a arte de muitos anos dedicados a um objectivo único através de múltiplos suportes. Cada inflexão de voz, cada sílaba projectada no ecrã, são vestígios de uma carrreira em que a(s) linguagem(ns) é um vírus que tem que ser abraçado para ser domado. 
Não é um filme fácil, por momentos chega a ser opressivo na lentidão das imagens, no negrume (quase não se vê um grão de sol), no gelo. Mas é um filme importante, e que vem provavelmente desencadear o início do fim de uma artista que caminha para os setenta anos - Heart of a dog é acima de tudo uma reflexão sobre a morte. A de Lolabelle, sua cadela, e de Lou Reed, o seu companheiro de duas décadas a quem o filme é dedicado, e que apenas surge em duas breves imagens. E.M.


Laurie Anderson, Heart of a dog (trailer), (2015)


domingo, 27 de dezembro de 2015

LLOYD COLE AND THE COMMOTIONS

Collected Recordings 1983-1989

Directamente do trenó do Pai Natal, uma das belas prendas de 2015: a caixa que recolhe praticamente tudo o que Lloyd Cole e os seus Commotions gravaram numa curta mas valiosíssima carreira. Estão presentes os três álbuns de originais (Rattlesnakes, de 1984, Easy Pieces, de 85, e Mainstream, de 87), mais um CD com demos e raridades, outro com os lados B, e um DVD com a totalidade dos videoclipes e aparições em programas de televisão. 



Para além disso, o booklet (de irrepreensível concepção gráfica) apresenta um longo texto do jornalista Pete Paphides que relata, com contribuições de todos os intervenientes directos, a carreira da banda.

Alguns apontamentos avulsos:
- Rattlesnakes continua a soar tão fresco como em 1984. De um disco repleto, exploro o tema-título, Speedboat, Down on Mission Street e Charlotte Street (que surge também nas raridades numa versão anterior muito diferente com o nome de Eat my words). Nota muito alta para os arranjos de cordas de Anne Dudley, que já espalhara a sua magia por The Lexicon of Love dos ABC e Welcome to the Pleasure Dome dos Frankie Goes to Hollywood.   
- O "difícil" segundo disco, Easy Pieces, continua a ser mal-amado pelos seus criadores, que por um lado não gostam do trabalho dos produtores Alan Winstanley e Clive Langer, indigitados pela produtora para levar os Commotions ao nível de outros seus púpilos como os Madness... e por outro reconhecem que a ideia definida do que estavam a fazer sonoramente e conceptualmente começava a apresentar falhas. Para mim, e face a um disco que é difícil de adquirir em CD, é uma alegria imensa poder ouvir Rich, Grace ou Minor character, que não é, nem de perto nem de longe, tão fraco como Cole afirma. Soa um bocadinho datado, mas nada que esbata a elevada qualidade global.
- O problema agrava-se, sim, com o terceiro e derradeiro Mainstream. Se em Portugal My bag, Jennifer she said e From the hip foram adoradas, tal não aconteceu no resto do globo. A veia descritiva de Cole, admirador confesso dos States e da melhor literatura mundial, começava a ter dificuldades em lidar com o cocainómano mundo das editoras na segunda metade dos anos 80, e o disco aponta para várias direcções mas nenhuma suficientemente explorada por uma produção clinicamente limpa de Ian Stanley, a aproveitar a onda do êxito Everybody wants to rule the world (que produzira e co-compusera para os Tears for Fears). 
- O baixista Lawrence Donegan, que tinha sido corrido dos Bluebells por ser fraco instrumentista, foi o único Commotion a levar socos e/ou pontapés dos outros quatro. Mais tarde tornou-se jornalista especialista em golfe.
- O baterista Stephen Irvine esteve a um passo de integrar os The Clash quando estes despediram Topper Headon. E.M
         
Lloyd Cole and The Commotions, Grace (1985)
     



terça-feira, 22 de dezembro de 2015

QUEM DISSE? #4

Ela vai ser mais famosa que a Madonna. A Madonna é uma moda passageira.

Quem o disse, numa entrevista dada à estampa em 1985, foram os The Waves: Kimberley Rew, Vince de La Cruz e Alex Cooper. Quem? Bem, é melhor explicar quem é a ela da frase: Katrina (Leskanich). Exacto, os Katrina and the Waves famosos por Walking on sunshine.
Nessa entrevista, os três membros masculinos da banda não pareciam ter dúvidas de que a sua vocalista iria ser uma megaestrela e que iria deixar na poeira da memória a tal de Louise Ciccone. Poderiam estar mais enganados? À primeira vista não, pois, para além de Walking on sunshine, apenas registaram no "sucessómetro" a representação do Reino Unido no Festival da Eurovisão em 1997 com a balada gospel Shine a light. Já de Madonna escorreram mais êxitos do que o creme num folhado quente. Mas...
Mas se quisermos especular um pouco... A verdade é que, quanto mais batidas nas rádios nostálgicas, mais se vai instalando um cansaço profundo com a maioria das canções de Madonna, mostrando à exaustão o pequenez e ridículo de coisas como La isla bonita.
Walking on sunshine continua imparável, sempre eléctrico e boa onda. E a fazer ganhar dinheiro a rodos à banda (o tema foi escrito pelo guitarrista Kimberley Rew, mas parece que as verbas dos royalties são divididas pelos quatro), qualquer coisa como um milhão de dólares por ano, desde os devidos à passagem na rádio como à utilização em publicidade.
Seria irónico se a frase dos rapazes, que nos pareceria tão ridícula, acabasse daqui a alguns anos por se revelar acertada, quando Madonna fosse atirada para a sarjeta da História e das operações plásticas e a nossa Katrina continuasse imperial com o seu êxito eterno. Já vi coisas mais estranhas... E.M.  


Walking on sunshine, Katrina and the Waves (1985) 



sábado, 19 de dezembro de 2015

THE BONZO DOG DOO-DA BAND
THE INTRO AND THE OUTRO

A Bonzo Dog Doo-Da Band, como o próprio nome já indica, é uma banda humorística. Activa essencialmente na segunda metade dos anos 60, foi companheira de geração e de ideais dos Beatles e dos Monty Python: por exemplo, Paul McCartney produziu, Neil Innes (teclista) compôs com Eric Idle dos Python, e actuou com eles ao vivo. Com a troupe dos Monty partilhavam o "background" universitário, com os quatro de Liverpool os gostos musicais, que passavam pelo vaudeville e o musical, a que acrescentavam o jazz e, mais tarde, o rock.  
No álbum de estreia, Gorillas (1967), aparece este surpreendente The intro and the outro, que é exactamente isso: ao longo de toda a música é tocado o mesmo motivo, só que com destaque e introdução para diferentes instrumentos. Ou seja, aquilo que num disco normal ou num concerto tradicional seria uma introdução dos elementos ou do tema para depois se passar à composição propriamente dita, aqui é revista e travestizada e tomada como elemento único. Os instrumentos são múltiplos, os intervenientes reais (os próprios Bonzo e convidados como Eric Clapton no ukelele) ou imaginários – John Wayne, Adolf Hitler no vibrafone, Quasimodo na bateria... 
A voz, que vai apresentando os "convidados", é do infelizmente já falecido Vivian Stanshall, que aqui mostrou as capacidades de mestre de cerimónias aproveitadas em 1973 por Mike Oldfield, que o convidou para apresentar os instrumentos que Oldfield vai tocando em Tubular Bells. E.M.

The Bonzo Dog Doo-Da Band, The intro and the outro (1967)


terça-feira, 15 de dezembro de 2015

AC/DC EM PORTUGAL!

Dia 7 de Maio de 2016 (sábado), no Passeio Marítimo de Algés. Bilhetes à venda no próximo domingo, dia 20 de Dezembro. 

Será preciso dizer mais?
Apenas que o ano que vem parece que vai exigir um esforço na bolsa do hard rocker e alternativo já com, digamos, alguma experiência de vida.
Se não, vejamos: já confirmados estão The Cure, Pixies (no Alive), Iron Maiden e agora AC/DC, e tudo indica que os U2 também cá venham dar uma perninha. Haja fôlego! E.M.

AC/DC, You shook me all night long (1980)


Onde é que já ouvi isto?

Adam and The Ants vs Rolf Harris


Em 1981 Adam Ant (e os seus The Ants), uma das mais originais figuras do movimento neo-romântico, acertou numa pepita de ouro com este Prince Charming, nome de álbum, de single, de vídeo. Hilariante, simplicíssimo, dois acordes repetidos para cima e para baixo em ritmo de marcha forçada, sobre um Príncipe Encantado que não tem que ter medo do ridículo. O tema ficou no ouvido, o vídeo, com Adam Ant a fazer de Cinderelo, Clint Eastwood, Alice Cooper e etc., é de partir o coco, e a genialidade da canção marcou a carreira do grupo. Só que... 
Afinal havia outra.  Mais concretamente de 1965 vinha War canoe, uma cançãozinha escrita e cantada por Rolf Harris, um artista australiano que foi durante muitos anos um dos mais queridos apresentadores da TV britânica. Basicamente, Prince Charming é uma cópia descarada de War canoe, no ritmo, na percussão, na linha vocal, nas vozes de acompanhamento.
Muitas vezes há processos de plágio que parecem só querer sacar dinheiro devido a algumas parecenças, mas neste caso é mais do que parecenças, é samplado. E ainda por cima de certeza que um jovem Adam Ant a terá ouvido no rádio quando era criança, por isso não podia alegar desconhecimento.
Lá acertaram as contas em tribunal. E se Rolf Harris precisa do dinheiro para advogados, pois está preso desde o ano passadoo, acusado de vários actos de pedofilia. Retiraram-lhe quase todos os prémios e honras que tinha recebido, e mesmo o Youtube está a cancelar muitos dos seus vídeos. Por isso, enquanto se pode façam lá a comparação. E.M.


Adam and The Ants, Prince Charming (1981)

Rolf Harris, War Canoe (1965)



quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

TAIS QUAIS

Mais um projecto ao Sul, dos suspeitos do costume pós-Rio Grande, ou seja, mais um supergrupo com João Gil, Tim, Vitorino e Jorge Palma.
A novidade destes Tais Quais, cujo álbum Os Fabulosos Tais Quais saiu em Novembro, é a mudança de azimute para o feminino: surge Celina da Piedade, acordeonista e vocalista cheia de vida e tradição, que já fez de tudo um pouco na apropriação da canção popular alentejana e não só. Aqui surge também, na produção executiva, o seu companheiro Alex Gaspar, que com ela escreve alguns dos temas gravados. 
Letras também pelo excelso João Monge, cúmplice de João Gil desde os tempos dos Trovante, e por Vitorino. Há recuperação de tradicionais e uma versão (mais uma...) de Circo de Feras, dos Xutos, que se está rapidamente a tornar mais Tim-esca do que Homem do Leme. A completar o ramalhete de cheiros além-Tejo, Sebastião Santos na bateria e Paulo Ribeiro (que acompanhou João Gil no anterior projecto Baile Popular) na voz profunda, e Jorge Serafim, de cerradíssima pronúncia da planície, a contar histórias. 
Musicalmente, nada de novo, cantigas de fundo tradicional bem cantadas e bem tocadas, em formato acústico mas sem grande centelha ou novidade. Mas não se pode pedir a João Gil para acertar sempre nos números da lotaria. Um homem com o seu currículo e todo o bem que já fez à música nacional bem pode juntar os amigos e fazer mais um disco sempre que quiser.
Fica então a novidade feminil, com a voz fresquinha de Celina e o seu acordeão a acompanhar, neste Mês de Agosto. E.M. 



Tais Quais, Mês de Agosto (2015)


Nota: alguns dias após este post, a Sony retirou os clipes do álbum do Youtube. Esperamos que voltem a inseri-los.





segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

FLOWERED UP  IT'S ON


Música para ir para a noite. Um dos nomes esquecidos do movimento baggy, mais centrado em Manchester com os Happy Mondays como figura de proa. Os Flowered Up giravam à volta dos irmãos Maher (Liam na voz e Joe na guitarra), vinham de Camden (Norte de Londres) e tiveram uma carreira curtíssima. Dessa meteórica passagem pela (semi)fama ficaram Weekender, um longuíssimo maxi-single de 13 minutos que fazia a crónica da saída dos jovens de classes operárias para os bares e discotecas de sexta e sábado à noite, e It's on, uma maravilhosamente pedrada e divertida cantiga de roda, construída à volta de uma flauta de pã, guitarras ácidas e um Liam no seu melhor acento cockney a apelar ao consumo de substâncias que ajudassem a ainda melhor passar a noitada. Seguiram tão bem os seus conselhos que já passaram os dois para o outro lado, ambos de overdose, Liam em 2009 e Joe em 2012. Parece que há coisas que se devem deixar para trás passados os 30 anos... It's on saiu na terrivelmente estilosa editora Heavenly, onde também despontaram, por exemplo, os Manic Street Preachers (que já cá picaram o ponto) e os Saint Etienne. E.M.


Flowered Up, It's on (1990)

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

SCOTT WEILAND (1967-2015)

Mais uma baixa na primeira linha do grunge. Agora foi a morte de Scott Weiland, vocalista dos Stone Temple Pilots e, mais tarde, dos Velvet Revolver. Ao que parece, devido a droga, ontem à noite, sozinho no seu autocarro de digressão. Grande voz, vida caótica, personalidade difícil. Para recordar, um dos melhores temas dos Velvet Revolver (supergrupo com três ex-Guns'n'Roses, incluindo o guitarrista Slash). E.M.

Scott Weiland nos Velvet Revolver, Superhuman (2004)



quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Bolsa musical: Mortos famosos #4 Janis Joplin 

Há artistas que morrem novos. São relembrados e recuperados, mas a sua obra, para além do que é obtido nos arquivos do que gravaram mas não chegaram a editar em vida, mantém-se fechada. Mas ao ouvir as suas canções, muitas vezes questiono-me sobre o que poderiam ainda ter feito se não tivessem falecido tão novos. Neste singela rubrica, é mesmo esse exercício de adivinhação que se tenta fazer. 

Janis Joplin (morreu a  4 de Outubro de 1970), com 27 anos
Janis Joplin. Esta sim, uma perda imensa para a música e a cultura em geral. Claro que algumas das características que a tornavam especial ou mesmo única foram as mesmas que a levaram ao desaparecimento prematuro. O imenso gosto pelas coisas "boas" da vida (sexo, álcool, drogas) de forma excessiva criou-lhe uma base de experiências que passou para as suas letras e músicas. A sua imensa vontade de se afirmar num mundo essencialmente masculino, bonito e bem-educado deu-lhe forças para abrir caminhos estéticos diversos a partir da tradição dos blues, dos musicais e dos espirituais. Nas décadas que se seguiram à sua morte em 1970, e que foram dominadas pelas ramificações do rock, creio que Janis poderia ter continuado a ser uma jogadora importante, quer na continuação da tradição como na inovação. Imagino-a perfeitamente a enveredar pelas versões acústicas e intimistas, ou a explorar as margens do "spoken word" e da performance.  
Probabilidades de futuros êxitos musicais: 90 em 100. E.M.


Para recordar, uma dilacerante versão do standard Little girl blue, um original de 1935 de Rodgers & Hart, aqui ao vivo no programa de TV de Tom Jones.


Janis Joplin, Little girl blue (1969)