It's a one time thing
It just happens a lot

Suzanne Vega

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Sam Smith contra 007 (vence Bond)


O tema do novo filme da série 007, Spectre, chama-se The writing's on the wall, e foi escrito por Jimmy Napes e... Sam Smith, que também o assassina  o interpreta  o canta. Para mim, é desde já uma das principais candidatas a pior tema de sempre para James Bond. Para esquecer este insulto a uma linhagem que inclui nomes tão ilustres como Shirley Bassey, Paul McCartney ou Duran Duran, fiquemos com You only live twice, do filme homónimo de 1967. Cantada por Nancy Sinatra, e onde a filha de Frank mostra que não é preciso ter a melhor voz do mundo para transformar uma canção em algo único. A anos-luz da pinderiquice bem-comportada e estupidamente limpa da geração X-Factor/Idols/Got Talent que Sam Smith representa, é música para sentir com o cérebro, com a alma e com as virilhas. "The name is good music, mister Bond, good music." E.M.  



You only live twice, Nancy Sinatra (1967) 



sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Patti Smith em Lisboa 


Foi na última segunda-feira que Patti Smith e o seu "Group" tocaram no Coliseu de Lisboa. Compromissos profissionais (longa pausa para suspirar...) impediram-me de lá me deslocar. No entanto, testemunhos de companheiros de confiança e as visualizações no Youtube levam a crer que foi concertaço. 
Em jeito de consolação, aí ficam o alinhamento, via Setlist.fm - integral do álbum de estreia, Horses, mais dois êxitos, versões de Velvet Undergound e The Who, mais dois "xodós" de Patti.
Depois, e via Youtube com vénia a Luís Dias, a gravação do tema de abertura de Horses, o histórico Gloria. E.M.



  1. Gloria 

Patti Smith, Coliseu dos Recreios, Lisboa, 21/9/2015, Gloria





quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Bolsa musical: Mortos famosos #3 John Lennon

Há artistas que morrem novos. São relembrados e recuperados, mas a sua obra, para além do que é obtido nos arquivos do que gravaram mas não chegaram a editar em vida, mantém-se fechada. Mas ao ouvir as suas canções, muitas vezes questiono-me sobre o que poderiam ainda ter feito se não tivessem falecido tão novos. Neste singela rubrica, é mesmo esse exercício de adivinhação que se tenta fazer. Para iniciar: 

John Lennon (morreu a  8 de Dezembro de 1980), com 40 anos
O que é que estão a dizer? Que isto é um sacrilégio? Vamos por partes: John Lennon não é um santo que não pode ser questionado esteticamente. E o que está aqui em causa é a sua arrastada decadência ao longo dos anos 70. Se o início da carreira a solo trouxe portentos como MotherGod e Working class hero, em 1975 era já um saco de estilhaços sentimentais - foi  Elton John (!) que teve que o empurrar para a pífia Whatever gets through the night, o seu êxito do ano anterior -, controlado pela sua "mãe" Yoko Ono, que o colocou em "prisão domiciliária" até 1980. O que não lhe parece ter custado muito, provavelmente ciente da sua bancarrota enquanto compositor face a um mundo que, ali a poucos quarteirões do seu luxuoso apartamento nova-iorquino, se modificava radicalmente através dos punks e new wavers.
A prova final veio com o álbum derradeiro, Double Fantasy, publicado aquando da sua morte em Dezembro de 80, e que é um fac-símile dos seus amores de adolescente, o rock dos anos 50, mas sem a verve ou a raiva, uma mediocridade epitomizada nesse pedido de desculpas sem dignidade que é Woman. O disco final, aureolado pela beleza da morte, continua a rodar por aí. Por mim, volto sempre aos pináculos de entre 1962 e 1970. 
Visto isto, qual poderia ter sido a carreira de John pelas décadas seguintes? A comparar com o seu parceiro de crime McCartney, e pelo que se ouve em Double Fantasy e no mais que póstumo Milk and Honey, temos todas as razões para as maiores desconfianças. No entanto, alguém que tinha dentro de si tanta capacidade de composição e de percepção do mundo poderia ainda fornecer algumas surpresas. 
Probabilidades de futuros êxitos musicais: 15 em 100. E.M.

John Lennon, Mother (1970)


segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Uma "pedra" de canção

#1 Buckcherry, Lit up


Hard rock estupidamente simples mas eficaz (uma espécie de sub-AC/DC, guardadas as devidas distâncias) por um grupo de californianos de Anaheim, um subúrbio bastante endinheirado de Los Angeles. A canção não tem grande carga literária, basicamente retrata o sonho (ou realidade?) de drogas com raparigas num avião privado. Mas o desprendimento arrogante com que Josh Todd canta "I love the cocaine, I love the cocaine" é delicioso. E os riifs de guitarra e o "swagger" em geral elevam esta canção dos 90's ao plano do intemporal. Ou pelo menos ao melhor glam dos 70's. Acendam isso tudo, rapazes! E.M.  

Buckcherry, Lit up (1999)

sábado, 19 de setembro de 2015

Jah Wobble (com Sinead O'Connor), Visions of you

O post de dia 17 de Setembro sobre Sinead O'Connor trouxe-me à memória esta deliciosa colaboração, entre dois músicos que se pelam por trabalhar com outros artistas. Da irlandesa já sabemos. De Jah Wobble (nascido como John Joseph Wardle), retemos que é uma daquelas figuras incontornáveis da história da música londrina. Com o seu fato que em tempos foi branco, andava com os punks e rastas por Notting Hill entre meados dos anos 70 e 80, tocando com elementos dos The Clash e formando os PIL - indispensáveis nomes do post-punk - com Keith Levene e John Lydon após o "suicídio" dos Sex Pistols. Depois apaixonou-se pela world music, e por aí tem ficado, normalmente com o projecto Invaders of the Heart, vogando desde o Egipto aos Andes.
Em 2006 convidou então a amiga Sinead a dar a voz principal para Visons of you. Típico world-orient-dub, com o habitual alto nível de qualidade de Jah, a que se soma a mais-valia da garganta rugosamente atraente de O'Connor. Tanto aquece uma tarde chuvosa de Inverno, como pode acompanhar um Blue Lagoon num lounge no estio. Global, portanto. E.M. 


Jah Wobble (com Sinead O'Connor), Visions of you (2006)


P.S.: É dos meus ouvidos, ou o refrão de Visions of you é perigosamente semelhante ao de Mother universe, dos Soup Dragons? Como gosto imenso de ambas, deixo-vos em baixo a oportunidade de fazer a prova do algodão.


The Soup Dragons, Mother Universe (1990)


quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Sinead O'Connor The emperor's new clothes

Toda a gente com um rádio ou televisão conhece Nothing compares to you, o tema escrito por Prince e que a irlandesa Sinead O'Connor levou à fama em 1990. Está no segundo álbum, I Don't Want What I Haven't Got, e que me lembro de ouvir nas madrugadas da saudosa Correio da Manhã Rádio, passada por Rui Vargas, um dos muitos profissionais da CMR que depois foram brilhar noutras estações ou noutras áreas.  
Trata-se de um disco muito à imagem da jovem que o delineou: criativo, de gostos abrangentes e decisões firmes. E com um pé em muitas áreas diferentes. Por exemplo, Nothing compares to you é uma balada lancinante e minimalista, Black boys on mopeds é um lamento social apenas com guitarra acústica. Já a minha preferida, e que aqui trago à colação, é The emperor's new clothes, uma longa declaração sobre a sua conturbada vida amorosa, namorados e o nascimento do primeiro filho, Jake. Em formato power-pop. Particularmente do meu agrado é a forma cortante como ela canta "I will live by my own policies, I will sleep with a clear conscience, I will sleep in peace". E a imensa "coda" instrumental que, a partir dos 3m42s, leva a canção até ao seu final, com os riffs de guitarra entrelaçados na forte batida. "Too cool", Sinead. E.M.





Sinead O'Connor, The emperor's new clothes (1990)




terça-feira, 15 de setembro de 2015

Grandes linhas de baixo

Shivaree, Goodnight moon (1999)

A linha de baixo com que se inicia e termina Goodnight moon, dos Shivaree, é daquelas cuja genialidade provém da sua simplicidade: oito notas, quatro a subir, quatro a descer, e está feita a festa. O grupo em si não teve muito mais do que este êxito, que recebeu nova vida em 2004 quando Quentin Tarantino a incluiu na segunda parte de Kill Bill, na cena em que Uma Thurman guia o seu descapotável pelas estradas do México. A canção é uma dengosa balada sulista com toques de jazz, elevada pela voz bagaceira de Ambrosia Parsley, e fica como umas daquelas agridoces recordações do final da última década em que éramos felizes sem o sabermos. E.M.



Shivaree, Goodnight moon (1999)


domingo, 13 de setembro de 2015

New Order, Your Silent Face 

Às vezes fico espantado e maravilhado como simples seres humanos conseguem imaginar e concretizar obras de arte tão inesperadas, belas e intemporais. É o caso de Your silent face, dos New Order. Está incluído em Power, Corruption and Lies (grande título, já agora), o segundo (1983) da banda que tentava renascer das cinzas dos Joy Division. E nota-se no geral do disco que Peter Hook, Bernard Sumner e Stephen Morris (a que se juntara Gillian Gilbert nas teclas) ainda estavam à procura dos seus caminhos e da segurança - como uma girafa-bebé no meio da selva pós-punk de Manchester, se me é permitida a analogia. 
Mas Your silent face, do alto dos seus quase seis minutos, mira-nos como uma catedral gótica sonora transplantada para um futuro longínquo, perfeitamente definida. 
A introdução é intrigante, com as suas caixas de ritmos secas, aos 16 segundos levamos com uma vaga de sintetizador, uma frase simples que se irá repetindo ao longo da canção. Aos 50 segundos a melódica de Bernie copia o sintetizador. A voz de Sumner só entra aos 1m10s, e por então já estamos apaixonados. "No hearing / or breathing / no movement / no colours / just silence". Aos 1m45 Hooky mostra uma das suas famosas linhas de baixo tocadas nas cordas mais agudas, como o falecido Ian Curtis lhe pedia para fazer nos Joy Division. E por aí adiante, que Your silent face é uma panóplia de pequenas descobertas simples. É daquelas que me fazem pele de galinha. Obrigado, New Order. E.M.

P.S.: A capa original, da responsabilidade do grande Peter Saville, o mágico do design da Factory, mostra apenas uma natureza-morte de flores de Henri Fantin-Latour, não aparecendo em lado algum o nome da banda ou do disco. 


Your silent face, New Order (1983) 

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Bolsa musical: Mortos famosos #2 Sid Vicious

Há artistas que morrem novos. São relembrados e recuperados, mas a sua obra, para além do que é obtido nos arquivos do que gravaram mas não chegaram a editar em vida, mantém-se fechada. Mas ao ouvir as suas canções, muitas vezes questiono-me sobre o que poderiam ainda ter feito se não tivessem falecido tão novos. Neste singela rubrica, é mesmo esse exercício de adivinhação que se tenta fazer. 


Sid Vicious (morreu a 2 de Fevereiro de 1979), com 21 anos
Musicalmente totalmente inepto, um asco de ser humano, especialista (sempre acompanhado do seu "guarda-costas") em dar tareias com correntes de bicicletas em jornalistas indefesos, junkie que matou a namorada à facada mas dizia que não se lembrava de nada, acabou por morrer de overdose enquanto esperava pelo julgamento. Não trouxe nada de relevante ao mundo artístico - está bem, vá lá, com boa vontade, a sua versão iconoclástica de My way para o filme The Great Rock'n'Roll Swindle -, e as hipóteses de que tal viesse a acontecer pós-1979 eras reduzidíssimas. Aliás, só fora convidado para "baixista" dos Sex Pistols por ter sido companheiro de delinquências na escola com o vocalista Johnny Rotten (John Lydon). 
Como se veio a perceber, "punk's not dead", e ainda bem, mas também se tem que separar bem imbecis do nível de Vicious (verdadeiro nome John Ritchie-Beverly) da herança do movimento musical que abalou a hierarquia musical na segunda metade dos anos 70. Fica bem nos pins dos blusões de cabedal, e chega.
Probabilidades de futuros êxitos musicais: 1 em 100. E.M.

Sid Vicious, My way (1978)



quarta-feira, 9 de setembro de 2015

The Johnny Average Band 

em Ch-Ch-Cherie

Quão obscura pode uma banda ser? Bem, nestes dias de Internet, pode-se dizer que será quando não tem sequer uma página dedicada na Wikipedia. É o caso da The Johnny Average Band, que nos inícios dos anos 80 editou um álbum e respectivo par de singles, um deles um delicioso pedaço de new wave da divisão mais pop (género Blondie, digamos) de seu nome Ch-ch-Cherie. Não sei por que acasos chegaram notícias destes nova-iorquinos à Grande Lisboa, mas a verdade é então que lá comprei o sete polegadas, que muito ouvi e ainda anda algures lá por casa. 
Na realidade, a The Johnny Average Band era um colectivo de músicos que passavam pelos míticos Bearsville Studios, situados perto de Woodstock mas agora já convertidos em moradias de luxo... Johnny Average era o pseudónimo de Mick Hodgkinson, teclista dos Falcons. A voz feminina é de Niki Wills, que era a esposa de Johnny Average. Ou de Mick. Ou dos dois. Confusos? Ouçam a canção, que é o que interessa. Viagem de 2m44s a uma das épocas mais interessantes da música moderna, sem qualquer custo. Ch-Ch-Cheers! E.M.


The Johnny Average Band, Ch-Ch-Cherie (1981)

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Bolsa musical: Mortos famosos #1 Brian Jones

Há artistas que morrem novos. São relembrados e recuperados, mas a sua obra, para além do que é obtido nos arquivos do que gravaram mas não chegaram a editar em vida, mantém-se fechada. Mas ao ouvir as suas canções, muitas vezes questiono-me sobre o que poderiam ainda ter feito se não tivessem falecido tão novos. Neste singela rubrica, é mesmo esse exercício de adivinhação que se tenta fazer. Para iniciar: 

Brian Jones (morreu a 3 de Julho de 1969), com 27 anos
Um dos fundadores dos Rolling Stones, e, pelo menos na sua mente, líder nos primeiros anos, o multi-instrumentista já tinha sido despedido da banda por Mick Jagger e Keith Richards algumas semanas antes da sua morte (suicídio? acidente?) na piscina da sua moradia. Agora, o que poderia ele vir a fazer? As indicações não eram as melhores. As drogas eram companheiras fiéis, os seus relacionamentos com a generalidade dos seus pares era, no melhor dos casos, fria, e não sabia compor. Logo... No entanto, a sua veia de descobridor de sons novos e de os incorporar com sucesso (ver marimba e cítara em Under my thumb e Paint it black, por exemplo) poderia indicar uma segunda vida nos estúdios como produtor. Mas isso seria estar longe dos holofotes da fama, algo que Jones não suportava.  
Probabilidades de futuros êxitos musicais: 10 em 100. E.M.

Rolling Stones, Under my thumb (1966)



sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Boato: Guns'n'Roses... JUNTOS???

Ah, esses bons dos Guns'N'Roses! Entre 1987 e 1992 dominaram o Mundo do hard rock através das guitarras de Slash e da voz esganiçada de Axl Rose. Depois, foram perdendo gás e elementos, e os Guns que vieram a Lisboa em 2006 e 2010 eram uma caricatura muito triste, que dos originais Roses apenas mostrava o vocalista. MAS...
Após décadas em guerras de advogados e através dos média, Axl Rose e Slash já se falam. Ao que parece - pelo menos na caixinha de desejos de muitos trintões e quarentões -, até estão a discutir a possibilidade de reunir a formação original e ir em digressão em 2016. A ser verdade (e por que não o seria? Já vimos reuniões muito menos prováveis), seria uma das grandes bombas dos últimos anos. Fazendo figas para que eles se entendam mesmo... e que se isso acontecer passem aqui pelo cantinho à beira-mar plantado. Do álbum Use Your Illusion I, de 1991, Bad Apples. "Let's boogie!" E.M.


P.S.: Nos últimos anos, e por ordem expressa de Axl Rose, os seguranças dos concertos dos Guns'N'Roses nos USA têm impedido a entrada de espectadores vestidos com T-shirts com imagens de Slash. Para além de uma ilegalidade tipicamente norte-americana (alguém na Europa civilizada poderia impedir a entrada de um portador de bilhete válido só por causa de uma T-shirt que não agrada ao artista, que apenas é um contratado?...), mostra bem o nível de paranóia a que chegou o vocalista. Precisa bem de levar um banho de humildade de Slash, Duff e Izzy.


Guns'N'Roses, Bad apples (1991)

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Afinal havia outra... bateria 

Os Fleetwood Mac, essa geriátrica instituição do rock FM norte-americano que, ao que parece, inspirou mais pó pelos seus narizes do um esquadrão de aspiradores, está de regresso para mais uma série de espectáculos, com o bónus de voltar a ter em palco a formação canónica (Stevie Nicks, Christine McVie, Lindsey Buckingham, John McVie e Mick Fleetwood). As crónicas que tenho lido referem geralmente, e com admiração, a pujança com que Mick Fleetwood, já com uns consideráveis 68 anos, toca a sua bateria. Isto até, num dos concertos, alguém ter visto, discretamente escondida atrás do pano de cena, uma segunda bateria. A pergunta impõe-se: qual o baterista que estará a desempenhar a função de suplemento vitamínico para o geriátrico percussionista dos Mac?... Só para contrariar, ouçamos, ao vivo, uma das canções do grupo que menos bateria tem, a belíssima Never going back again, composta, cantada e delicadamente tocada em guitarra acústica por Lindsey Buckingham. E.M. 


Fleetwood Mac, Never going back again (original 1977, versão de início da década de 2010)