It's a one time thing
It just happens a lot

Suzanne Vega

domingo, 17 de julho de 2016

AVISO À NAVEGAÇÃO

DEVIDO A AFAZERES PROFISSIONAIS, O BLOGUE NASCIDO PARA OUVIR ESTÁ TEMPORARIAMENTE EM HIBERNAÇÃO.

A TODOS OS QUE CÁ ESPREITARAM, UM MUITO OBRIGADO E UM (ESPERAMOS) ATÉ JÁ.

"Stay hard, stay young, stay alive"
This hard land, Bruce Springsteen

segunda-feira, 16 de maio de 2016

ABBA  BANG-A-BOOMERANG

Ah, ABBA. Perfeição é a palavra. Na construção das melodias, no pormenor dos arranjos, na produção inovadora, na magia do uso do estúdio, nas vozes das meninas que se conjugavam perfeitamente. Passados tantos anos, continuam tão frescos como em 1975, ano em que este magnífico pedaço de pop chamado Bang-a-boomerang saiu no álbum ABBA (mas atenção, o tema tinha sido escrito por Bjorn Ulvaeus e Benny Anderson no ano anterior para os seus compatriotas Svenne & Lotta levarem ao Festival da Eurovisão, que os ABBA tinham vencido nesse histórico 1974 com Waterloo).
De entre tanto para ouvir nesta canção, destaco a bateria "à Velho Oeste", a percussão de espanta-espíritos e, principalmente, mais uma excelente linha de baixo desse virtuoso infelizmente já falecido que foi Rutger Gunnarson.
O vídeo mostra um grupo ainda unido, feliz, e, sendo a década de 70 e eles suecos, sem qualquer problema em mostrar os dentes encavalitados. O que interessava, obviamente, era a música. E.M.

ABBA, Bang-a-boomerang (1975)



terça-feira, 10 de maio de 2016

BRUCE JÁ PARA A SEMANA

Terminou a rambóia dos AC/Guns'n'Roses/DC (Axl Rose apareceu em Algés, e a horas! O que um contrato à prova de bala faz... É que ele só vai ver a cor do dinheiro dos australianos após o final do último concerto. Chamem-lhes parvos...). 
Por mim, guardei as forças para o primeiro dia do Rock in Rio, ou seja, THE BOSS. Mas há outras coisas curiosas nesse 19 de Maio:
- Fandango, mais um interessante projecto de veteranos das guerras do rock nacional, Gabriel Gomes (ex-Sétima Legião e Madredeus) no acordeão e Luís Varatojo (ex-Peste e Sida e A Naifa) na guitarra portuguesa sobre batidas electrónicas. Tem é que se chegar cedo, pois eles abrem o Palco Electrónica.
- No Palco Vodafone surgem os também portugueses Keep Razors Sharp, que já aqui foram aplaudidos, e os Black Lips, que trazem de Atlanta o seu bem sujo garage rock.
Bruce Springsteen, já se sabe, toca todo o seu álbum duplo The River, mais uma dúzia de êxitos avulsos. Desta feita escolhemos Ramrod, que B.S. e a sua E-Street Band esticam a níveis de gozo e duração improváveis. E.M.   

Bruce Springsteen, Ramrod (1980)

quarta-feira, 4 de maio de 2016

SOLOS DE GUITARRA DA MINHA VIDA

#1 Slash (Guns'n'Roses) November rain

O título diz tudo, basicamente. Grandes solos de guitarra, daqueles que me fazem imitar os gestos dos geniais artistas na minha "air guitar". Têm em comum serem muito melódicos, sentidos e sem grande espalhafato mas com imensa técnica. Ou seja, não há aqui qualquer tentativa de tocar 300 notas por minuto ou mostrar a imensa pedaleira. O que conta é a emoção.
Para começar, mister Saul Hudson, ou melhor, Slash, dos Guns'n'Roses. Esta é uma das baladonas editadas em 1991 nos dois álbuns duplos simultâneos Use Your Illusion, e que na prática foram o canto de cisne da banda. Até este ano... November rain é um belíssimo épico, construído por Axl Rose no piano e na letra (já agora, não há orquestra alguma na canção, foi tudo colocado a dedo por Axl Rose com sintetizadores e programação), a que Slash dá o toque de magia com o seu solo. Ou melhor, dois solos. Ou um solo dividido em duas partes.
O videoclipe não deixa de ser divertido, com a encenação do casamento e do copo-d'água. A meio, Slash sai da igrejinha e "toca" uma das suas adoradas Gibson Les Paul. Como é que ele consegue tirar algum som sem um único amplificador ou coluna à vista? Mistérios... Agora sério, ouçam com ouvidos de ouvir estas duas belas séries de notas saídas deste matulão cheio de feeling. E.M



Slash, Guns'n'Roses, November rain (1991),
primeiro solo aos 4m12s, o segundo solo aos 5m22s







segunda-feira, 2 de maio de 2016

ÁUREA   Busy (for me)

O tempo roda tão rápido, que corremos o risco de ir perdendo pelo caminho nomes que merecem ficar connosco. Lembrei-me disto ao saber que a "nossa" Áurea tem novo disco. O seu álbum homónimo de estreia, de 2010, foi uma surpresa, e das muito boas. Uma cantora com voz, presença e canções de soul à sua altura. E tudo feito com a prata da casa. Ninguém esperava, mas o disco "rebentou" por esse país fora, muito por causa deste Busy (for me), que vai buscar inspiração às canções de intérpretes (curiosamente masculinos) dos anos 60, como Pickett e Redding, mas também ao visual de cantoras de cabaret e de jazz das décadas anteriores. Vamos ouvir com atenção o novíssimo Restart, na esperança de o pop mais plástico de Soul Notes (2012) ter sido mesmo apenas um passo mal dado, demasiado cedo. É que Áurea parece ser daquelas vozes e personalidades que precisa de estar em pousio, e encher-se para depois poder dar tudo o que tem. E.M.     


Áurea, Busy (for me), (2010)


quinta-feira, 28 de abril de 2016

Morrissey  My love life

Steven Patrick Morrissey, velha cara dos anos 80 enquanto metade da casa de máquinas dos Smiths (onde dava voz e letras, ficando Johnny Marr nas melodias, guitarras e afins), tem tido uma vida pós-Smiths, a solo, muito atribulada, quer a nível pessoa quer profissional, e muitas vezes na entrecruzilhada das duas - veja-se a perseguição que alguma imprensa musical britânica (está bem, o New Musical Express) lhe moveu em meados dos anos 90, acusando-o de racismo após algumas declarações mais provocatórias e a utilização de bandeira do Reino Unido nos seus espectáculos.
Já recuperou, reaparecendo em grande em 2004 com o álbum You are the Quarry, agora está na mó de baixo, com problemas cancerígenos graves.
Este My love life é um single de 1991, e em muitos aspectos parece-me sintetizar bem este homem: uma melodia simples, alguns bons apontamentos instrumentais nas guitarras, um tom geral entre o melancólico e a tentativa de optimismo, uma letra sempre equilibrada na dúvida de se será amado, ou se o merece ("I know you love one person, so why can't you love two?"), tudo filmado com os seus jovens compinchas nas ruas californianas, dando azo a mais falatório, numa altura em que a sua homossexualidade ainda não era assumida publicamente. E.M.


Morrissey, My love life (1991) 















domingo, 24 de abril de 2016

PRINCE ALWAYS 

Ano negro, realmente. Após Bowie, Prince.
Mais do que isso, começam a desaparecer os homens que definiram as minhas principais coordenadas estéticas: já estão no grande concerto do céu Joe Strummer (The Clash), António Sérgio e Prince. Pelo que me agarrarei com unhas e dentes ao que sobra, Bruce Springsteen, que também já não vai para novo.O próximo encontro está, claro, marcado para dia 19 de Maio, na abertura do Rock in Rio 2016.
Quanto a Prince Rogers Nelson, já quase tudo foi dito nos últimos dias. Um génio, a nível de composição, arranjos, produção e interpretação. Um dos poucos que se podem arvorar de ter alterado o curso da música popular. Lírico, sensual, brincalhão, irritante, inteligente, interventivo. Tantas coisas, às vezes tão contraditórias. Como a sua total oposição ao Youtube, o que lhe retirou visibilidade nas gerações mais novas.
Mais do que lamentar uma morte ao que parece perfeitamente evitável, devemos rejubilar com tudo o que de maravilhoso ele nos deixou.
Um dos incontornáveis é Kiss, essa pequena maravilha de ritmo e sensualidade e loucura feita com pouco mais do que uma batida, uma guitarra e algumas vozes. Gosto especialmente da cara que Wendy (guitarrista) faz 1m14s quando Prince eleva o tom e os decibéis. 
Um privilégio, um prazer que nunca se esgota ao ouvir. Obrigado, meu Prince. E.M.


Prince, Kiss (1986)



sábado, 23 de abril de 2016

AC/DC OUT

Após uns dias de hesitação, a Everything Is New, promotora que traz os AC/DC a Lisboa, emitiu um comunicado em que confirmava que os detentores de bilhetes para o concerto de dia 7 em Algés podiam devolver os referidos bilhetes. Foi o que fiz ontem - o período de devolução é curto, iniciou-se ontem às 10 horas e termina já na terça-feira, dia 26, às 19 horas.
Termina assim de uma forma agridoce esta odisseia. Por um lado tenho pena de não rever uma das minhas bandas de referência na área do hard rock e metal. Por outro, já os vi ao vivo, e aquilo que aí vem a Portugal dificilmente pode ser considerado AC/DC - se o som da bateria de Phil Rudd poderia ser relativamente fácil de copiar, já a guitarra ritmo de Malcolm Young e, claro, a voz de Brian Johnson são irrepetíveis. E só a perspectiva de ouvir uma voz com as características de Axl Rose a avançar por temas como Back in black ou Highway to hell me dá calafrios.
Claro que posso estar enganado, que o vocalista dos Guns'n'Roses seja uma surpresa positiva e dê um grande espectáculo. Mas não creio.
Quanto ainda à saída de Brian, a história parece estar cada vez mais mal contada, agora vem a público dizer que os restantes elementos da banda (tradução: Angus Young) já antes se preparavam para o pôr no olho da rua. Enfim, sendo mesmo esta a derradeira digressão dos (agora semi)australianos, será um correr de cortina pouco digno. 
Ficam recordações de muitos grandes concertos ao longo de tantos anos e, claro, imortalizados em disco, alguns hinos intemporais. Apesar de tudo, "For Those About to Rock, We Salute You". E.M.

AD/DC, Thunderstruck (ao vivo, 1991)



segunda-feira, 18 de abril de 2016

LEGIÃO URBANA  ÍNDIOS

Venerados no Brasil, tecnicamente desconhecidos em Portugal, os Legião Urbana foram de facto um projecto muito conseguido. O mentor era o poeta/cantor Renato Manfredini (que adoptou o apelido Russo, do filósofo Rousseau), um jovem de uma sensibilidade e uma inteligência e um conhecimentos notáveis. Ainda bem que os colocou ao serviço da música pop-rock, antes de morrer de SIDA em 1996, aos 36 anos. A nível sonoro, não estaremos muito longe da verdade se definirmos os Legião Urbana como os Smiths de Brasília, nomeadamente no segundo álbum, Dois, de 1986, de onde extraí este maravilhoso Índios, cuja letra (que segue em baixo), a um tempo profunda e ligeira, actual e enraizada na história brasileira, parece ser aspirada da boca de Renato para os nossos pulmões. E.M.


Legião Urbana, Índios (1986)



Quem me dera, ao menos uma vez
Ter de volta todo o ouro que entreguei
A quem conseguiu me convencer
Que era prova de amizade
Se alguém levasse embora até o que eu não tinha

Quem me dera, ao menos uma vez,
Esquecer que acreditei que era por brincadeira
Que se cortava sempre um pano-de-chão
De linho nobre e pura seda.

Quem me dera, ao menos uma vez,
Explicar o que ninguém consegue entender:
Que o que aconteceu ainda está por vir
E o futuro não é mais como era antigamente.

Quem me dera, ao menos uma vez,
Provar que quem tem mais do que precisa ter
Quase sempre se convence que não tem o bastante
E fala demais por não ter nada a dizer

Quem me dera, ao menos uma vez,
Que o mais simples fosse visto como o mais importante
Mas nos deram espelhos
E vimos um mundo doente.

Quem me dera, ao menos uma vez,
Entender como um só Deus ao mesmo tempo é três
E esse mesmo Deus foi morto por vocês
É só maldade então, deixar um Deus tão triste.

Eu quis o perigo e até sangrei sozinho.
Entenda - assim pude trazer você de volta pra mim
Quando descobri que é sempre só você
Que me entende do inicio ao fim
E é só você que tem a cura pro meu vício
De insistir nessa saudade que eu sinto
De tudo que eu ainda não vi

Quem me dera, ao menos uma vez
Acreditar por um instante em tudo que existe
E acreditar que o mundo é perfeito
E que todas as pessoas são felizes

Quem me dera, ao menos uma vez
Fazer com que o mundo saiba que seu nome
Está em tudo e mesmo assim
Ninguém lhe diz ao menos obrigado

Quem me dera, ao menos uma vez
Como a mais bela tribo, dos mais belos índios
Não ser atacado por ser inocente

Eu quis o perigo e até sangrei sozinho
Entenda: assim pude trazer você de volta pra mim
Quando descobri que é sempre só você
Que me entende do início ao fim
E é só você que tem a cura pro meu vício
De insistir nessa saudade que eu sinto
De tudo que eu ainda não vi

Nos deram espelhos e vimos um mundo doente
Tentei chorar e não consegui




sexta-feira, 15 de abril de 2016

THE CULT Lil' devil

Ninguém pode acusar os britânicos The Cult de não serem aventureiros sónicos. Começaram num post-punk audacioso (Spiritwalker), passaram para o gótico na altura do álbum Love (She sells sanctuary), e nos anos 90 andaram mesmo por vizinhanças do trip-hop e do cantautorismo boémio de esquerda norte-americano (Sacred life). Mas também deram forte, e feio, no hard rock mais abrasivo. Foi em 1987, com o álbum Electric (só o nome é já todo um programa de acção), para o qual foram buscar o superprodutor Rick Rubin.
Num disco que deve muito aos Led Zeppelin e aos AC/DC, Ian Astbury (voz) e Billy Duffy (guitarras), o núcleo criativo constante da banda, conseguem mesmo assim dar um cunho pessoal. São pormenores, como o espaço nos riffs de Duffy, ou as variações de tom da voz de Astbury, que carregam canções da mediania para uma genialidade que se cola à pele e ao ouvido. Um dos singles foi este Lil' devil. Que Brett Easton Ellis, em Menos que Zero, utiliza para descrever um tipo de meninas californianas, que iam às discotecas com saias de folhos dançar ao som de Lil' devil. Curta, incisiva, intemporal. E.M.

The Cult, Lil' devil (1987)



sábado, 9 de abril de 2016

THE BREEDERS CANNONBALL

Primeira incursão na constelação Pixies-Breeders-Belly-Throwing Muses, ou seja, naquilo que de melhor o rock independente e inteligente dos Estados Unidos nos deu nos anos 80 e 90. 
As Breeders foram nos anos 90 a forma de escape de Kim Deal, que, baixista nos Pixies, tinha uma relação muito tensa com Black Francis, que, nomeadamente, quase não a deixava cantar ou apresentar composições para a banda de Boston gravar. Deal chamou outra alma inquieta – Tanya Donelly, que enfrentava nas Throwing Muses situações semelhantes com a sua irmã e "boss", Kirstin Hersh. O primeiro álbum, Pod (1990), era de uma enorme rudeza e rugosidade, gentileza do superprodutor alternativo Steve Albini, que o transformaram num dos favoritos de Kurt Cobain.
Mas foi com Last Splash (1993) que as Breeders (agora já sem Tanya, que saíra para fundar as Belly, mas já com Kelley Deal, irmã de Kim... isto já parece a trama de uma novela mexicana) alcançaram o que ainda era possível nesses dourados anos 90: êxito comercial e crítico com um álbum de rock alternativo bem puxado e que tanto jogava no melódico como no "noise".
De entre um disco muito regular, acabámos por escolher o tema de ponta, Cannonball.
Mudanças de ritmo, guitarras a entrar e a sair, vozes gritadas e atiradas por poços, "breaks", floreados de guitarras por aqui e por ali, e um refrão que parece uma banda inteira a cair pelas escadas do estúdio. 
O videoclipe é uma enciclopédia dos tiques de indie rock (banda a "tocar" mais imagens avulso de objectos em estranhos contextos), e cabeça de vocalista no aquário como viria a fazer o amigo Thom Yorke dos Radiohead. E assim temos um clássico indie instantâneo.
A banda depois perdeu gás, as manas meteram muito pó pelas veias, e os velhos grupos originais voltaram a reunir-se e a desfazer-se... Mas isso já é outra história. E.M.

The Breeders, Cannonball (1993

terça-feira, 5 de abril de 2016

AC/DC A GRANDE CONFUSÃO

Mais valia ter estado calado... É que a alegria pela visita dos AC/DC a Portugal a 7 de Maio transformou-se, se não numa grande desilusão, pelo menos numa grande embrulhada que não se sabe onde vai acabar.
Expliquemos: para começar, da formação canónica pós-1979, ou seja, depois da morte do vocalista Bon Scott, já não vinham dois elementos. O baterista Phil Rudd não pode deixar a Nova Zelândia, devido a problemas legais (ameaças de violência, agressões, julgamentos...). O guitarra-ritmo Malcolm Young, diagnosticado com um princípio de demência, abandonou a banda. Mas está bem, vinham os dois sons mais característicos do grupo: a guitarra solo de Angus Young e a voz Brian Johnson.
Soube-se agora que Brian Johnson, sob o risco de ficar surdo, foi intimado pelos médicos a deixar os palcos. O que ele fez.
Resultado: os AC/DC estão sem cantor, as datas americanas que deviam estar a ser tocadas por estes dias foram adiadas, e correm os boatos mais desencontrados sob um possível vocalista convidado para os concertos na Europa. O nome mais falado é o de... Axl Rose!?...
Agora sinceramente: estou à espera de notícias mais concretas sobre a data em Algés para saber o que faço. A promotora Everything Is New está calada que nem um rato. Ou seja, não se sabe se vai haver concerto em Maio, se for adiado para quando o será, quem será o vocalista, pode-se legalmente devolver os bilhetes em caso de mudança de cantor?...
Muitas dúvidas. Se fosse só por mim, e que já os vi ao vivo, mandava o Axl Rose dar uma volta (sou fã dos Guns'n'Roses, mas cada macaco no seu galho), mas tenho cá em casa juventude que adora AC/DC e poderá não ter outra hipótese de os ver ao vivo... Mas será que ainda serão os AC/DC, ou uma outra coisa qualquer?
Esperamos pelas cenas dos próximos capítulos. E.M. 

P.S.: O que é hilariante é que Brian Johnson não deu cabo dos ouvidos em cima do palco, mas sim nos carros desportivos que conduz para o programa de televisão que apresenta!

AC/DC, Highway to hell (1979)   




domingo, 3 de abril de 2016

Morcheeba Rome wasn't built in a day

Música quentinha, soalheira, boa onda, divertida, melódica e com um refrão infeccioso até dizer chega. Rome wasn't built in a day chega-nos cortesia dos ingleses Morcheeba, um dos muitos projectos que se agruparam sob a grande umbrela do trip hop mas que eram bem mais soul pop do que outra coisa. A voz é de Skye Edwards, a produção, composição e instrumentação ficam a cargo dos manos Paul e Ross Godfrey. O videoclipe é uma deliciazinha, antecipando a mania das flashmobs que viriam poucos anos depois – este tema é de 2000. E a letra, simples mas tocante: "you and me / were meant to be / walking free / in harmony." Que os Morcheeba e a sua swingante boémia ajudem a Primavera a chegar. É que já não há pachorra para a chuva,vento e frio que entram pelas casas portuguesas. E.M.

Morcheeba, Rome wasn't built in a day (2000)



sexta-feira, 1 de abril de 2016

Étienne Daho Mon manège à moi

Regressado de uns dias em terras francesas, aqui fica uma pequena homenagem a um dos mais importantes nomes da últimas décadas das artes musicais por aquelas bandas: Étienne Daho. Podia ter ido por Saudade (1991), tema dedicado a Portugal, por onde andou bastante e por onde se apaixonou, mas decidi avançar mais um par de anos, e mostrar a belíssima recuperação que Daho fez de Mon manège à moi, uma canção que a imortal Edith Piaf levou à fama. Daho faz uma limpeza muito anos 90, dançável mas suave, sentida mas um pouco irónica, mostrando como uma "chanson" pode passar a "pop" sem perder identidade ou força. Teledisco todo em preto e branco, pleno de signos, semanticamente muito interessante. "Bonjour à tous." E.M. 

Étienne Daho, Mon manège à moi (1993)

terça-feira, 22 de março de 2016

Alpha Blondy Rendez-vous

Regresso do nosso reggae man preferido, Alpha Blondy. Mas neste tema, Rendez-vous, do álbum Masada de 1992, o  costa-marfinense estava numa mais fase de aproximação ao pop, e o resultado, se bem que de uma leveza e boa disposição incontestáveis, fica como uma das poucas excepções numa obra em que os temas são esmagadoramente políticos, sociais e religiosos. O visual é claramente dos inícios dos anos 90 - digam lá se, com aquelas trancinhas, não parece mesmo o Terence Trent D'Arby, outro iluminado que então andava bem alto nas constelações da fama, e de que também muito gostamos. Todos juntos: "Babosi, babosa!" E.M.


Alpha Blondy, Rendez-vous (1992)


sexta-feira, 18 de março de 2016

QUE SEGURO SEMPRE ESTEJA

Confesso que não sou dos maiores apreciadores de Samuel Úria enquanto cantor, mas gosto muito da sua faceta de compositor. E quando tem uma voz como a de Márcia para o ajudar num tema por si escrito de uma simplicidade assombrosa e de grande capacidade de se bambolear entre as regras e cumplicidades da língua portuguesa, então surge magia, como este acústico Eu seguro, colaboração que saiu no álbum de Samuel O Grande Medo do Pequeno Mundo, de 2013. O vídeo, tão simples e embalador, é pouco mais do que os dois amigos, uma guitarra, um barrete, um par de sapatos e uma cadeira, tudo filmado sem presunções ali para a Caparica (parece-me). Mas é mais do que suficiente.

Num registo um pouco mais sério: quando andava há uns tempos a pesquisar pela Internet sobre artistas portugueses, uma das primeiras páginas que me surgiu sobre Samuel Úria era uma estridente cacofonia de um "clérigo" muçulmano radicado num país nórdico, e onde, entre outras imbecilidades, colocava uma lista de "pessoas judias famosas na Europa". Nas (poucas) portuguesas estava... Samuel Úria. A página, que infelizmente não consegui voltar a encontrar – ou talvez felizmente tenha sido eliminada –, era uma pouco velada ameaça à integridade dos nomeados.
E fiquei abismado em a simples ascendência, o simples apelido, pode colocar um artista na mira (mesmo que apenas virtual) destes loucos. Para Samuel Úria, ao que sei uma pessoa de paz e de bem e que com a sua música coloca o Mundo triste em que vivemos um pouco melhor, uma longa e próspera vida (e muitas canções). E.M.



Samuel Úria com Márcia, Eu seguro (2013)

terça-feira, 15 de março de 2016

GO KIWIS!

Começou hoje mais um Campeonato do Mundo de críquete, em formato T20, o mais pequeno.
O encontro inicial foi um Índia-Nova Zelândia. E que melhor começo podia ter tido a minha Nova Zelândia? Jogava na boca do leão, em casa dos anfitriões, que conhecem as condições de jogo como a palma da mão, os seus lançadores são especialistas naquele relvado... Ninguém dava um chavo pelos "black caps". 
O novo capitão neozelandês, Kane Williamson (que substitui a lenda Brendon McCullum), é um jovem. Ganhou a moeda ao ar com MS Dhoni (o muito experiente "skipper" da Índia ) e decidiu que a sua equipa ia bater primeiro. E fizeram 127 corridas, o que, face à Índia em casa, era claramente insuficiente. 
Ou seja, na segunda parte, os lançadores da Nova Zelândia teriam que obrigar os poderosos batedores indianos a fazer menos de 127 corridas. E Kane, numa atitude que todos, mas todos, consideraram suicida, tinha tirado da equipa Boult e Southee, os dois melhores lançadores de bolas rápidas, e jogou com quatro "spinners", os homens que lançam as bolas curtas e com efeito – aquilo em que a Índia é especialista...
Pois tomem: os batedores-estrelas da Índia foram caindo que nem tordos, eliminados pelos maravilhosas bolas cheias de efeito de McCullum (Nathan, o mano mais velho do antigo capitão), Santner e Sodhi. A Índia fez apenas 79 corridas, o seu segundo total mais baixo na história deste formato, e nem conseguiu bater os 20 "overs". O estádio ficou de luto, num país que venera o críquete quase como uma religião.
Ainda há muito para jogar, mas que injecção de confiança que os rapazes de negro conseguiram para o resto do torneio. Próximo jogo (jogão), com os irmãos/rivais do outro lado do oceano, a Austrália, na sexta-feira, dia 18.
Go Kiwis!


Em homenagem à selecção de Aotearoa (a Ilha da Grande Nuvem Branca) fica aqui uma canção da minha predilecção por uma das melhores bandas que já saíram na Nova Zelândia: os Mutton Birds, com Dominion road. Dominion Road é uma grande rua de Auckland, e exactamente a meio da mesma foi colocada no pavimento uma placa comemorativa desta canção. Como diz a letra, "halfway down Dominion Road". E.M.



The Mutton Birds, Dominion Road (1992)






sexta-feira, 11 de março de 2016

Youssou N'Dour  Birima

O mestre senegalês Youssou N'Dour (de fama no dueto 7 Seconds, com Neneh Cherry), aqui em Birima, mistura perfeita entre as tradições instrumentais da África Ocidental e as formas de cantar da África do Norte. Uma canção que parece vogar sobre as nuvens, enquanto nos arrasta carinhosamente para uns passinhos de dança. E.M.    


Youssou N'Dour, Birima (2000)

segunda-feira, 7 de março de 2016

CLÁSSICO... QUE NÃO O FOI POR CÁ

Os Animotion foram uma banda típica dos anos 80: sintetizadores, neo-romantismo, dança, telediscos cheios de cor, casacos tamanho XXL, mangas puxadas para cima, baixo em "slap", mais "riffs" de sintetizador, cabelos completamente marados. O que tinham de diferente era, para além de serem californianos, terem as vozes principais divididas entre um homem (Bill Wadhams) e uma mulher (Astrid Plane), sabendo nós que estes electro-qualquer coisa eram essencialmente um Clube do Bolinha onde menina não entrava muito. O seu maior êxito foi este saltitante e contagiante Obsession, que, se os meus neurónios bem se lembram, não puxou carroça por cá. Bem, estávamos mais virados para o que vinha de Londres e Birmingham. Vejam lá o teledisco, dêem um pezinho de dança, e não deixem de rir com as vestimentas de romanos e egípcios e do manual de lugares-comuns das vivendas dos subúrbios de L.A. E.M.  

Animotion, Obsession (1984)





quinta-feira, 3 de março de 2016

TREVO DA SORTE

Hoje vamos mesmo lá ao fundo do baú, ao comecinho dos anos 60, buscar esta pequenina preciosidade do mestre João Gilberto a dar uma lição de contenção e fraseado da melhor Bossa nova. Chama-se Trevo de quatro folhas, e é uma delícia de frescura, juventude e fervor... se bem que sempre com um fundo de tristeza, dado que ele espera que o desejo concedido pelo trevo seja o regresso "dela". Está no segundo álbum de João Gilberto, O Amor, o Sorriso e a Flor, de 1960. 


João Gilberto, Trevo de quatro folhas (1960)


Mas não se trata de um original, e sim de uma versão de I'm Looking Over a Four Leaf Clover, canção de 1927, com letra de Mort Dixon e música de Harry M. Woods, que teve muitas abordagens por artistas diversos. Um dos mais bem-sucedidos foi, em 1948, Art Mooney e a sua big band, que nos consegue levar para feiras de verão junto ao rio com a sua versão com banjo e glockenspiel. E que João Gilberto deve ter ouvido quando era criança nas ruas da sua cidade natal, Juazeiro. E.M.

Art Mooney, I'm Looking Over a Four Leaf Clover (1948)



segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Ramones  It's Alive

É possível passar uma festa de aniversário só a dançar ao som de três discos? Ai é, sim senhor. Lembro-me de uma das primeiras a que fui, ainda adolescentezinho, da minha amiga Ana N., ali para a Amadora. E, se bem que tínhamos mais discos na sala, basicamente o consenso é que só precisávamos de ouvir At Budokan dos Cheap Trick, Regatta de Blanc, dos Police, e It's Alive, dos Ramones.
Este último é um álbuns clássicos ao vivo, gravado no último dia de 1977 no The Rainbow Theatre, em Londres. O quarteto de Nova Iorque (bem, Queens) estava no topo da sua forma, definindo o "punk bubble-gum" em canções de três acordes e dois minutos de duração. Energia a rodos, nada de conversas, slogans idioticamente brilhantes ("Hey, ho, let's go!", "Gabba gabba hey!") e que se tornaram património de t-shirts pelo Mundo fora. 
Muito imitados, nunca igualados – e já todos falecidos. Uma enorme reverência a Joey, Johnny, Dee Dee e Tommy Ramone. Pela magia da Internet, podemos ver e ouvir grande parte do concerto. "Hey, ho, let's go!" E.M.



The Ramones, It's alive (1978)

sábado, 27 de fevereiro de 2016

OUTRAS HISTÓRIAS DA DEOLINDA

Já cá canta, quentinho, Outras Histórias, o novo (quarto de originais) da Deolinda. E macacos me mordam se não acertaram de novo, neste que pode ser considerado já um disco de meia-idade face à esperança média de vida de uma banda. São quinze canções, pelo que ainda está a ser digerido, mas as primeiras impressões são muito positivas.

Assim por alto, os primeiros pontos também altos que saltaram ao ouvido e ao coração:


- do tema de avanço, Corzinha de Verão, já se falou por aqui. Acrescento só que acho que vai durar muitos verões pelos ouvidos lusos.

- Desavindos é uma belíssima e muito simples balada, com um arranjo inatacável, onde o convidado Manuel Cruz (o multifacetado artista que ficará para sempre como a alma dos míticos Ornatos Violeta) dá a voz a uma canção de uma intimidade adulta e tocante.

- Canção Aranha é clássico Deolinda, muito jazzy, muito balanceada, com uma história de dia-a-dia suburbano a cruzar-se com a própria existência e função de casamenteira da canção. Um raio de luz no cinzentismo da pequena vida da Grande Lisboa.

- Bom partido é uma marchinha popular de pé na chinela com alguns momentos hilariantes: "Pedi ao meu Santo António / que me encontrasse um amor assim: / belo, rico, casa, carro e olhos / (...) Devo ter pedido mal / trouxe um homem míope e baixinho / sem carta nem enxoval".

- A velha e o DJ é o mais modernaço que a Deolinda traz, com piscadelas de olho aos ritmos africanos mais modernos, cortesia de DJ Riot, dos Buraka Som Sistema. 

Para ir roendo nos próximos dias. Deolinda, amiga, o povo português continua contigo, tal como tu continuas connosco. E.M


quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Nudge, nudge... Say no more!

Há artistas de que gosto tanto que me é virtualmente impossível escolher só uma peça como preferida. Mas neste caso, dos Monthy Phyton, apesar de ser fã absoluto e de reconhecer que têm uma profusão impressionante de momentos brilhantes, não tenho dúvidas: estes dois minutos e meio de Eric Idle e Terry Jones são o pináculo da obra do sexteto humorístico inglês (bem, um era americano e outro vinha do País de Gales...).

Nem sei o que realçar mais: a imensa capacidade de "rapport" entre os dois, enquanto cada um está num registo totalmente diferente – Idle num frenético desajeitamento adolescente, Jones num contido cavalheirismo britânico; a profusão de trejeitos de Eric, sempre perfeitamente relacionados com as falas; as próprias falas, com um ritmo e uma alternância entre o fabuloso bordão "nudge nudge, say no more" e as perguntas que vão fazendo avançar a trama; a perfeita noção que vamos tendo da senhora de que se fala; a totalmente inesperada reviravolta final. Enfim, um catálogo de humor.

Já agora, um pormenor curioso, que é referido na biografia do grupo: quando Eric Idle, que criou o "sketch", apareceu com o dito escrito numas folhas de papel, os restantes cinco Pythons foram unânimes a opinar que aquilo não tinha piada alguma. Mas quando o louro começou a interpretar o "sketch" em frente deles, com a voz e a fisicalidade, desmancharam-se todos a rir, e o resto é história. E.M.


Monty Python's Flying Circus, Nudge, nudge, say no more

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

A AUTORIDADE... COSTUMA GANHAR

Em dia de total falta de pachorra para a incompetência e prepotência de quem tem um mínimo de autoridade, seja um agente da polícia ou um funcionário das Finanças. O melhor mesmo é ouvir duas grandes musiquinhas sobre o tema por dois nomes insuspeitos, que sempre lutaram pela justiça, solidariedade e igualdade: John Cougar Mellencamp e The Clash. Se bem que ambas as letras acabem por convergir em que a autoridade acabou sempre por vencer... Talvez só até um dia, meus amigos. Corações ao alto e esperança. E.M.

John Cougar Mellencamp, Authority song (1983)


The Clash, I fought lhe law (1979)


sábado, 20 de fevereiro de 2016

Bruce no RiR LX

Já cá cantam os bilhetes para o concerto de Bruce Springsteen em Lisboa, a 19 de Maio, no primeiro dia do Rock in Rio da capital. É verdade que o recinto leva muitos milhares de espectadores, mas pelo ritmo que as vendas estão a ter, e com a raridade com que ele vem a Portugal, não me admirava que esgotasse a curto/médio prazo. Só nos cinco minutos no balcão onde comprei as entradas, estavam dois "jovens" da minha geração a comprar bilhetes para o Boss, que continua a juntar datas para a parte europeia da tournée que celebra o duplo The River - logo a 21 vai a Madrid, Estádio Santiago Bernabéu.
Entretanto, data para marcar na agenda é 27 de Setembro, quando é editada a autobiografia em livro de Springsteen, intitulada (obviamente) Born to Run. Ao que parece, esteve em gestação e edição desde 2009. 
Fica também aqui uma versão muito recente de Meet me in the city, o "outtake" das sessões de The River com que Bruce e a E Street Band têm aberto todos os concertos de 2016. Ficamos à espera de nos encontrarmos na cidade. E.M.

Bruce Springsteen and the E Street Band, Meet me in the city



terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

DEOLINDA CORZINHA DE VERÃO

Regresso (segundo as convenções, aguardado) dos, ou da, como eles gostam de dizer, Deolinda. Corzinha de Verão é o primeiro avanço para o álbum Outras Histórias, disponível nas varias plataformas físicas e digitais dia 19 de Fevereiro. 
É uma bela canção estival, prazenteiramente dengosa, com uma letra deliciosa que inverte o desejo de ir para a praia e o bronze, e que poderá muito bem integrar o cânone de músicas de verão clássicas: Dunas, dos GNR, ou Eu gosto é do verão, da Fúria do Açúcar, por exemplo. 
Quanto ao som, nota-se uma clara mudança face aos anteriores discos, pelo menos neste tema. Começa a ser mais remota a ligação à música tradicional portuguesa, nomeadamente ao fado, e isso nota-se quer na abordagem vocal de Ana Bacalhau ou na escolha da instrumentação. Ou seja, é um tema já de claro pop/lounge mais californiano do que caparicano. Em parte percebe-sem a vontade de evolução, mas não deixa de ser um pouco triste esta opção por parte de um dos projectos mais interessantes na música nacional, que descia as raízes bem fundo ao inconsciente colectivo nacional, nos ritmos e nas vivências que inspiram as letras de Pedro da Silva Martins (que aqui continua em grande forma, mantendo um lugar no Olimpo dos letristas do burgo).
Um último pormenor: o vídeo parece ter sido gravado em parte no Museu Nacional de Arte Antiga, ali às Janelas Verdes. E se assim foi, faz-me um pouco de confusão. Eu sei que os museus nacionais, que estão na miséria devido às políticas de extermínio levadas a cabo pelos últimos governos, têm de aproveitar as fontes de rendimento alternativas, e aqui com a mais-valia de terem exposição em muitos computadortes e ecrãs de TV pelo Mundo fora. Mas expliquem-me lá como é que, num museu onde em visitas normais mal se pode respirar ao pé de uma obra de arte e levamos logo com um segurança em cima, deixaram entrar uma equipa de gravação, com todos os seus muitos elementos, normalmente conhecidos pela exuberância e pouco discernimento prático, andar ali à vontade com toda a sua parafernália de máquinas? Para já não falar em objectos perigosos como bolas de praia e raquetes de badminton. Espero que o seguro das obras tenha sido bem elevado... E.M. 


Deolinda, Corzinha de Verão (2016)


quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

MARILLION LADY NINA

Dos recantos da memória, algo que não ouvia há anos e anos: Lady Nina, dos Marillion. Faz parte da safra de 85/86, ou seja, época do extremamente bem-sucedido álbum Misplaced Childhood. Lady Nina surgiu como lado B, nesses tempos ainda do vinil, do single Kayleigh, que continua a passear pelas ondas radiofónicas. Na altura não percebi como é que uma canção deste calibre não foi um êxito, ou pelo menos mais promovida. Agora, com  a (espero) sabedoria dos anos e dos ouvidos, creio que percebo. Não aceito mas percebo.

Antes de mais, e ao contrário do resto dos temas dos Marillion na fase em que tinham Fish como vocalista, é construída, na totalidade dos seus quase 6 minutos, na base de uma batida de "drum machine", extremamente forte mas longe da bateria acústica habitual do grupo. Depois, não segue qualquer regra de verso-refrão-verso, tem imensos espaços instrumentais, breaks só de caixa de ritmos, interjeições em alemão...

E o tema é forte: mulher da noite, casada, batida, desesperada; homem que gostava de a levar para casa, mas não pode, pois ama a mulher e os filhos... ainda há o marido dela, que lhe bate. Mas a letra não resvala para o "kitchen sink" britânico, está bem enrolada, Fish consegue dar um retrato desta mulher com recurso a linhas como "One night you play Elizabeth Taylor / The next night you're Marilyn Monroe / Forever kissing frogs that think they're princes."  

O baixo tem um groove que não é habitual em herdeiros do progressivo/sinfónico da década de 70, os efeitos da caixa de ritmos fazem lembrar as remixes para maxi-single e discotecas, a guitarra voga em múltiplos pedais. Vendo bem, tudo isto, vindo de proveniências tão diferentes, poderia ter dado uma bela salgalhada. Mas deu uma canção coerente, forte, dançável, com mensagem e que não fica colada à sua época. E percebo que não fosse aquilo que os fãs dos Marillion esperariam num single da banda inglesa. 

Recuperemos então, uma jóia esquecida. E.M.


Marillion, Lady Nina (1985)  

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

PETER WOLF  I NEED YOU TONIGHT

Após uma carreira de algum sucesso como vocalista da J. Geils Band (que deu frutos como Centerfold, um clássico dos anos 80), Peter Wolf decidiu abandonar os seus capangas e lançar-se numa carreira a solo. Do álbum primeiro, Lights Out (de 1984), saiu um single que conseguiu algo difícil por aqueles dias: conseguir a dinâmica do rock vertente new wave da passagem da década de 70 para a de 80 mas polido com as mais recentes tecnologias e técnicas de gravação em estúdio, sem no entanto perder a ligação às raízes..
Dissecando: estão lá a batida metronómica, as guitarras secas, os teclados interpolados, mas tudo  bem limpo de impurezas, permitindo uma imersão na voz, irrepreensivelmentye rugosa, de Wolf. E a melodia é do melhor. Quem também fazia muito bem isto era o já falecido Robert Palmer – por exemplo, em Looking for clues.
Quanto ao teledisco (digam lá se não soa melhor que videoclipe?), parece saído de um episódio de Miami Vice. As casas, os bólides, os mauzões, as armas...
Peter depois disto não fez mais grande coisa, mas juntando ao que fez na J. Geils, pode dizer-se que Wolf deixou a sua pegada nas planícies do rock. E.M.

Peter Wolf, I need you tonight (1984)


sábado, 6 de fevereiro de 2016

DIABO NA CRUZ

Já há muito era devida homenagem a um dos mais interessantes veios da música nacional: Diabo na Cruz. O pai da criança é Jorge Cruz, surgido da constelação da editora Flor Caveira e que (para além de outros projectos) aqui canta, toca guitarra, escreve letras e compõe músicas e ainda tem tempo para produzir. Vão em três álbuns (Virou, de 2010, Roque Popular, de 2012, e Diabo na Cruz, de 2014 – pela lógica, deverá haver disco em formato grande neste ano de 2016). E fazem uma bela mistura entre o tradicional e o moderno. A nível musical, tanto abordam o rock como os ritmos típicos da província nacional. Na lírica, tocam em cancioneiros medievais e angústias pós-modernistas. Como é refrescante conseguir reunir num mesmo tema as centenárias festas da Senhora da Agonia e o desemprego jovem actual. Tudo arranjado com qualidade mas não assepticamente, e cantado com uma verve muito própria. E.M.


Diabo na Cruz, Luzia (2012)



terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

ARTE

Teatro Tivoli, Avenida da Liberdade, Lisboa
Quinta a sábado, às 21h30. Domingo às 16h30.
Bilhetes entre os 12 e os 18 euros.



Arte, o texto da dramaturga francesa Yasmine Reza, estreado em 1994, já passou em Portugal com muito êxito – tive o privilégio de ver em 1998/99, no Teatro Villaret, a opulentamente boa interpretação de António Feio, José Pedro Gomes e Miguel Guilherme. Agora, no Tivoli, com outro trio (obviamente, porque António Feio já nos deixou fisicamente): Vítor Norte, João Lagarto e Adriano Luz, que também encena segundo a tradução de Feio. A história desenrola-se entre três amigos de longa data que entram em rota de colisão quando um deles compra um quadro de arte contemporânea por um valor que um dos outros considera obsceno.  

Claro que nesta situação a apreciação seria sempre feita em comparação entre as duas encenações.
Assim sendo:
- o texto de Reza, sobre a amizade, os valores, o que é a arte, o que esta vale e a sua relação com o dinheiro, está, infelizmente, tão actual como estava naqueles longínquos anos de final de euforia yuppie bolsista. O ser humano continua igual, e o ser capitalista também.
- o tradução de Feio aguenta-se impecável.
- a encenação não é brilhante. A todos os títulos. No Villaret (teatro mais pequeno, mais intimista, mais moderno) tudo se passava à volta de adereços e cores vibrantes, havia muito branco, em roupas, em telas, em cenários. Agora, num espaço antigo e escuro como o Tivoli, tudo gira à volta do negro e dos castanhos. 
- questiono também a adequação dos artistas. Não de Vítor Norte, que faz um papelão, de colocação de voz e de corpo e de cena. Já João Lagarto (grande actor dramático) e Adriano Luz não me parecem encaixar bem nas personagens.
- a própria interacção entre os três não é muito fluida. A verdade é que António Feio, José Pedro Gomes e Miguel Guilherme não só eram amigos íntimos, como provinham todos da mesma escola de actuação, havia uma rotina e um à-vontade que oleava qualquer falha. E na de 2016 vê-se que se quis virar a rota. Ou seja, se a Arte de 1998/99 era uma comédia onde se falava de coisas sérias, a de 2016 tenta ser uma peça dramática com laivos de graça. E acaba por ficar a meio caminho. E.M. 


Para quem quiser recordar, o YouTube tem (em oito secções...) a peça de 1998.



   

domingo, 31 de janeiro de 2016

Bilhetes para Bruce Sprinsgteen...

... estão à venda no dia 11 de Fevereiro (quinta-feira). Para quem ainda não sabe, o concerto, único confirmado até agora para a Europa em 2016, está marcado para dia 19 de Maio, a abrir o Rock in Rio Lisboa. Todos para a Belavista! E.M.

P.S.: Fica o alinhamento do espectáculo do Boss e a sua E Street Band no dia 29 de Janeiro, em Washington DC.



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