It's a one time thing
It just happens a lot

Suzanne Vega

segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Ramones  It's Alive

É possível passar uma festa de aniversário só a dançar ao som de três discos? Ai é, sim senhor. Lembro-me de uma das primeiras a que fui, ainda adolescentezinho, da minha amiga Ana N., ali para a Amadora. E, se bem que tínhamos mais discos na sala, basicamente o consenso é que só precisávamos de ouvir At Budokan dos Cheap Trick, Regatta de Blanc, dos Police, e It's Alive, dos Ramones.
Este último é um álbuns clássicos ao vivo, gravado no último dia de 1977 no The Rainbow Theatre, em Londres. O quarteto de Nova Iorque (bem, Queens) estava no topo da sua forma, definindo o "punk bubble-gum" em canções de três acordes e dois minutos de duração. Energia a rodos, nada de conversas, slogans idioticamente brilhantes ("Hey, ho, let's go!", "Gabba gabba hey!") e que se tornaram património de t-shirts pelo Mundo fora. 
Muito imitados, nunca igualados – e já todos falecidos. Uma enorme reverência a Joey, Johnny, Dee Dee e Tommy Ramone. Pela magia da Internet, podemos ver e ouvir grande parte do concerto. "Hey, ho, let's go!" E.M.



The Ramones, It's alive (1978)

sábado, 27 de fevereiro de 2016

OUTRAS HISTÓRIAS DA DEOLINDA

Já cá canta, quentinho, Outras Histórias, o novo (quarto de originais) da Deolinda. E macacos me mordam se não acertaram de novo, neste que pode ser considerado já um disco de meia-idade face à esperança média de vida de uma banda. São quinze canções, pelo que ainda está a ser digerido, mas as primeiras impressões são muito positivas.

Assim por alto, os primeiros pontos também altos que saltaram ao ouvido e ao coração:


- do tema de avanço, Corzinha de Verão, já se falou por aqui. Acrescento só que acho que vai durar muitos verões pelos ouvidos lusos.

- Desavindos é uma belíssima e muito simples balada, com um arranjo inatacável, onde o convidado Manuel Cruz (o multifacetado artista que ficará para sempre como a alma dos míticos Ornatos Violeta) dá a voz a uma canção de uma intimidade adulta e tocante.

- Canção Aranha é clássico Deolinda, muito jazzy, muito balanceada, com uma história de dia-a-dia suburbano a cruzar-se com a própria existência e função de casamenteira da canção. Um raio de luz no cinzentismo da pequena vida da Grande Lisboa.

- Bom partido é uma marchinha popular de pé na chinela com alguns momentos hilariantes: "Pedi ao meu Santo António / que me encontrasse um amor assim: / belo, rico, casa, carro e olhos / (...) Devo ter pedido mal / trouxe um homem míope e baixinho / sem carta nem enxoval".

- A velha e o DJ é o mais modernaço que a Deolinda traz, com piscadelas de olho aos ritmos africanos mais modernos, cortesia de DJ Riot, dos Buraka Som Sistema. 

Para ir roendo nos próximos dias. Deolinda, amiga, o povo português continua contigo, tal como tu continuas connosco. E.M


quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Nudge, nudge... Say no more!

Há artistas de que gosto tanto que me é virtualmente impossível escolher só uma peça como preferida. Mas neste caso, dos Monthy Phyton, apesar de ser fã absoluto e de reconhecer que têm uma profusão impressionante de momentos brilhantes, não tenho dúvidas: estes dois minutos e meio de Eric Idle e Terry Jones são o pináculo da obra do sexteto humorístico inglês (bem, um era americano e outro vinha do País de Gales...).

Nem sei o que realçar mais: a imensa capacidade de "rapport" entre os dois, enquanto cada um está num registo totalmente diferente – Idle num frenético desajeitamento adolescente, Jones num contido cavalheirismo britânico; a profusão de trejeitos de Eric, sempre perfeitamente relacionados com as falas; as próprias falas, com um ritmo e uma alternância entre o fabuloso bordão "nudge nudge, say no more" e as perguntas que vão fazendo avançar a trama; a perfeita noção que vamos tendo da senhora de que se fala; a totalmente inesperada reviravolta final. Enfim, um catálogo de humor.

Já agora, um pormenor curioso, que é referido na biografia do grupo: quando Eric Idle, que criou o "sketch", apareceu com o dito escrito numas folhas de papel, os restantes cinco Pythons foram unânimes a opinar que aquilo não tinha piada alguma. Mas quando o louro começou a interpretar o "sketch" em frente deles, com a voz e a fisicalidade, desmancharam-se todos a rir, e o resto é história. E.M.


Monty Python's Flying Circus, Nudge, nudge, say no more

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

A AUTORIDADE... COSTUMA GANHAR

Em dia de total falta de pachorra para a incompetência e prepotência de quem tem um mínimo de autoridade, seja um agente da polícia ou um funcionário das Finanças. O melhor mesmo é ouvir duas grandes musiquinhas sobre o tema por dois nomes insuspeitos, que sempre lutaram pela justiça, solidariedade e igualdade: John Cougar Mellencamp e The Clash. Se bem que ambas as letras acabem por convergir em que a autoridade acabou sempre por vencer... Talvez só até um dia, meus amigos. Corações ao alto e esperança. E.M.

John Cougar Mellencamp, Authority song (1983)


The Clash, I fought lhe law (1979)


sábado, 20 de fevereiro de 2016

Bruce no RiR LX

Já cá cantam os bilhetes para o concerto de Bruce Springsteen em Lisboa, a 19 de Maio, no primeiro dia do Rock in Rio da capital. É verdade que o recinto leva muitos milhares de espectadores, mas pelo ritmo que as vendas estão a ter, e com a raridade com que ele vem a Portugal, não me admirava que esgotasse a curto/médio prazo. Só nos cinco minutos no balcão onde comprei as entradas, estavam dois "jovens" da minha geração a comprar bilhetes para o Boss, que continua a juntar datas para a parte europeia da tournée que celebra o duplo The River - logo a 21 vai a Madrid, Estádio Santiago Bernabéu.
Entretanto, data para marcar na agenda é 27 de Setembro, quando é editada a autobiografia em livro de Springsteen, intitulada (obviamente) Born to Run. Ao que parece, esteve em gestação e edição desde 2009. 
Fica também aqui uma versão muito recente de Meet me in the city, o "outtake" das sessões de The River com que Bruce e a E Street Band têm aberto todos os concertos de 2016. Ficamos à espera de nos encontrarmos na cidade. E.M.

Bruce Springsteen and the E Street Band, Meet me in the city



terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

DEOLINDA CORZINHA DE VERÃO

Regresso (segundo as convenções, aguardado) dos, ou da, como eles gostam de dizer, Deolinda. Corzinha de Verão é o primeiro avanço para o álbum Outras Histórias, disponível nas varias plataformas físicas e digitais dia 19 de Fevereiro. 
É uma bela canção estival, prazenteiramente dengosa, com uma letra deliciosa que inverte o desejo de ir para a praia e o bronze, e que poderá muito bem integrar o cânone de músicas de verão clássicas: Dunas, dos GNR, ou Eu gosto é do verão, da Fúria do Açúcar, por exemplo. 
Quanto ao som, nota-se uma clara mudança face aos anteriores discos, pelo menos neste tema. Começa a ser mais remota a ligação à música tradicional portuguesa, nomeadamente ao fado, e isso nota-se quer na abordagem vocal de Ana Bacalhau ou na escolha da instrumentação. Ou seja, é um tema já de claro pop/lounge mais californiano do que caparicano. Em parte percebe-sem a vontade de evolução, mas não deixa de ser um pouco triste esta opção por parte de um dos projectos mais interessantes na música nacional, que descia as raízes bem fundo ao inconsciente colectivo nacional, nos ritmos e nas vivências que inspiram as letras de Pedro da Silva Martins (que aqui continua em grande forma, mantendo um lugar no Olimpo dos letristas do burgo).
Um último pormenor: o vídeo parece ter sido gravado em parte no Museu Nacional de Arte Antiga, ali às Janelas Verdes. E se assim foi, faz-me um pouco de confusão. Eu sei que os museus nacionais, que estão na miséria devido às políticas de extermínio levadas a cabo pelos últimos governos, têm de aproveitar as fontes de rendimento alternativas, e aqui com a mais-valia de terem exposição em muitos computadortes e ecrãs de TV pelo Mundo fora. Mas expliquem-me lá como é que, num museu onde em visitas normais mal se pode respirar ao pé de uma obra de arte e levamos logo com um segurança em cima, deixaram entrar uma equipa de gravação, com todos os seus muitos elementos, normalmente conhecidos pela exuberância e pouco discernimento prático, andar ali à vontade com toda a sua parafernália de máquinas? Para já não falar em objectos perigosos como bolas de praia e raquetes de badminton. Espero que o seguro das obras tenha sido bem elevado... E.M. 


Deolinda, Corzinha de Verão (2016)


quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

MARILLION LADY NINA

Dos recantos da memória, algo que não ouvia há anos e anos: Lady Nina, dos Marillion. Faz parte da safra de 85/86, ou seja, época do extremamente bem-sucedido álbum Misplaced Childhood. Lady Nina surgiu como lado B, nesses tempos ainda do vinil, do single Kayleigh, que continua a passear pelas ondas radiofónicas. Na altura não percebi como é que uma canção deste calibre não foi um êxito, ou pelo menos mais promovida. Agora, com  a (espero) sabedoria dos anos e dos ouvidos, creio que percebo. Não aceito mas percebo.

Antes de mais, e ao contrário do resto dos temas dos Marillion na fase em que tinham Fish como vocalista, é construída, na totalidade dos seus quase 6 minutos, na base de uma batida de "drum machine", extremamente forte mas longe da bateria acústica habitual do grupo. Depois, não segue qualquer regra de verso-refrão-verso, tem imensos espaços instrumentais, breaks só de caixa de ritmos, interjeições em alemão...

E o tema é forte: mulher da noite, casada, batida, desesperada; homem que gostava de a levar para casa, mas não pode, pois ama a mulher e os filhos... ainda há o marido dela, que lhe bate. Mas a letra não resvala para o "kitchen sink" britânico, está bem enrolada, Fish consegue dar um retrato desta mulher com recurso a linhas como "One night you play Elizabeth Taylor / The next night you're Marilyn Monroe / Forever kissing frogs that think they're princes."  

O baixo tem um groove que não é habitual em herdeiros do progressivo/sinfónico da década de 70, os efeitos da caixa de ritmos fazem lembrar as remixes para maxi-single e discotecas, a guitarra voga em múltiplos pedais. Vendo bem, tudo isto, vindo de proveniências tão diferentes, poderia ter dado uma bela salgalhada. Mas deu uma canção coerente, forte, dançável, com mensagem e que não fica colada à sua época. E percebo que não fosse aquilo que os fãs dos Marillion esperariam num single da banda inglesa. 

Recuperemos então, uma jóia esquecida. E.M.


Marillion, Lady Nina (1985)  

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

PETER WOLF  I NEED YOU TONIGHT

Após uma carreira de algum sucesso como vocalista da J. Geils Band (que deu frutos como Centerfold, um clássico dos anos 80), Peter Wolf decidiu abandonar os seus capangas e lançar-se numa carreira a solo. Do álbum primeiro, Lights Out (de 1984), saiu um single que conseguiu algo difícil por aqueles dias: conseguir a dinâmica do rock vertente new wave da passagem da década de 70 para a de 80 mas polido com as mais recentes tecnologias e técnicas de gravação em estúdio, sem no entanto perder a ligação às raízes..
Dissecando: estão lá a batida metronómica, as guitarras secas, os teclados interpolados, mas tudo  bem limpo de impurezas, permitindo uma imersão na voz, irrepreensivelmentye rugosa, de Wolf. E a melodia é do melhor. Quem também fazia muito bem isto era o já falecido Robert Palmer – por exemplo, em Looking for clues.
Quanto ao teledisco (digam lá se não soa melhor que videoclipe?), parece saído de um episódio de Miami Vice. As casas, os bólides, os mauzões, as armas...
Peter depois disto não fez mais grande coisa, mas juntando ao que fez na J. Geils, pode dizer-se que Wolf deixou a sua pegada nas planícies do rock. E.M.

Peter Wolf, I need you tonight (1984)


sábado, 6 de fevereiro de 2016

DIABO NA CRUZ

Já há muito era devida homenagem a um dos mais interessantes veios da música nacional: Diabo na Cruz. O pai da criança é Jorge Cruz, surgido da constelação da editora Flor Caveira e que (para além de outros projectos) aqui canta, toca guitarra, escreve letras e compõe músicas e ainda tem tempo para produzir. Vão em três álbuns (Virou, de 2010, Roque Popular, de 2012, e Diabo na Cruz, de 2014 – pela lógica, deverá haver disco em formato grande neste ano de 2016). E fazem uma bela mistura entre o tradicional e o moderno. A nível musical, tanto abordam o rock como os ritmos típicos da província nacional. Na lírica, tocam em cancioneiros medievais e angústias pós-modernistas. Como é refrescante conseguir reunir num mesmo tema as centenárias festas da Senhora da Agonia e o desemprego jovem actual. Tudo arranjado com qualidade mas não assepticamente, e cantado com uma verve muito própria. E.M.


Diabo na Cruz, Luzia (2012)



terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

ARTE

Teatro Tivoli, Avenida da Liberdade, Lisboa
Quinta a sábado, às 21h30. Domingo às 16h30.
Bilhetes entre os 12 e os 18 euros.



Arte, o texto da dramaturga francesa Yasmine Reza, estreado em 1994, já passou em Portugal com muito êxito – tive o privilégio de ver em 1998/99, no Teatro Villaret, a opulentamente boa interpretação de António Feio, José Pedro Gomes e Miguel Guilherme. Agora, no Tivoli, com outro trio (obviamente, porque António Feio já nos deixou fisicamente): Vítor Norte, João Lagarto e Adriano Luz, que também encena segundo a tradução de Feio. A história desenrola-se entre três amigos de longa data que entram em rota de colisão quando um deles compra um quadro de arte contemporânea por um valor que um dos outros considera obsceno.  

Claro que nesta situação a apreciação seria sempre feita em comparação entre as duas encenações.
Assim sendo:
- o texto de Reza, sobre a amizade, os valores, o que é a arte, o que esta vale e a sua relação com o dinheiro, está, infelizmente, tão actual como estava naqueles longínquos anos de final de euforia yuppie bolsista. O ser humano continua igual, e o ser capitalista também.
- o tradução de Feio aguenta-se impecável.
- a encenação não é brilhante. A todos os títulos. No Villaret (teatro mais pequeno, mais intimista, mais moderno) tudo se passava à volta de adereços e cores vibrantes, havia muito branco, em roupas, em telas, em cenários. Agora, num espaço antigo e escuro como o Tivoli, tudo gira à volta do negro e dos castanhos. 
- questiono também a adequação dos artistas. Não de Vítor Norte, que faz um papelão, de colocação de voz e de corpo e de cena. Já João Lagarto (grande actor dramático) e Adriano Luz não me parecem encaixar bem nas personagens.
- a própria interacção entre os três não é muito fluida. A verdade é que António Feio, José Pedro Gomes e Miguel Guilherme não só eram amigos íntimos, como provinham todos da mesma escola de actuação, havia uma rotina e um à-vontade que oleava qualquer falha. E na de 2016 vê-se que se quis virar a rota. Ou seja, se a Arte de 1998/99 era uma comédia onde se falava de coisas sérias, a de 2016 tenta ser uma peça dramática com laivos de graça. E acaba por ficar a meio caminho. E.M. 


Para quem quiser recordar, o YouTube tem (em oito secções...) a peça de 1998.