It's a one time thing
It just happens a lot

Suzanne Vega

quinta-feira, 28 de abril de 2016

Morrissey  My love life

Steven Patrick Morrissey, velha cara dos anos 80 enquanto metade da casa de máquinas dos Smiths (onde dava voz e letras, ficando Johnny Marr nas melodias, guitarras e afins), tem tido uma vida pós-Smiths, a solo, muito atribulada, quer a nível pessoa quer profissional, e muitas vezes na entrecruzilhada das duas - veja-se a perseguição que alguma imprensa musical britânica (está bem, o New Musical Express) lhe moveu em meados dos anos 90, acusando-o de racismo após algumas declarações mais provocatórias e a utilização de bandeira do Reino Unido nos seus espectáculos.
Já recuperou, reaparecendo em grande em 2004 com o álbum You are the Quarry, agora está na mó de baixo, com problemas cancerígenos graves.
Este My love life é um single de 1991, e em muitos aspectos parece-me sintetizar bem este homem: uma melodia simples, alguns bons apontamentos instrumentais nas guitarras, um tom geral entre o melancólico e a tentativa de optimismo, uma letra sempre equilibrada na dúvida de se será amado, ou se o merece ("I know you love one person, so why can't you love two?"), tudo filmado com os seus jovens compinchas nas ruas californianas, dando azo a mais falatório, numa altura em que a sua homossexualidade ainda não era assumida publicamente. E.M.


Morrissey, My love life (1991) 















domingo, 24 de abril de 2016

PRINCE ALWAYS 

Ano negro, realmente. Após Bowie, Prince.
Mais do que isso, começam a desaparecer os homens que definiram as minhas principais coordenadas estéticas: já estão no grande concerto do céu Joe Strummer (The Clash), António Sérgio e Prince. Pelo que me agarrarei com unhas e dentes ao que sobra, Bruce Springsteen, que também já não vai para novo.O próximo encontro está, claro, marcado para dia 19 de Maio, na abertura do Rock in Rio 2016.
Quanto a Prince Rogers Nelson, já quase tudo foi dito nos últimos dias. Um génio, a nível de composição, arranjos, produção e interpretação. Um dos poucos que se podem arvorar de ter alterado o curso da música popular. Lírico, sensual, brincalhão, irritante, inteligente, interventivo. Tantas coisas, às vezes tão contraditórias. Como a sua total oposição ao Youtube, o que lhe retirou visibilidade nas gerações mais novas.
Mais do que lamentar uma morte ao que parece perfeitamente evitável, devemos rejubilar com tudo o que de maravilhoso ele nos deixou.
Um dos incontornáveis é Kiss, essa pequena maravilha de ritmo e sensualidade e loucura feita com pouco mais do que uma batida, uma guitarra e algumas vozes. Gosto especialmente da cara que Wendy (guitarrista) faz 1m14s quando Prince eleva o tom e os decibéis. 
Um privilégio, um prazer que nunca se esgota ao ouvir. Obrigado, meu Prince. E.M.


Prince, Kiss (1986)



sábado, 23 de abril de 2016

AC/DC OUT

Após uns dias de hesitação, a Everything Is New, promotora que traz os AC/DC a Lisboa, emitiu um comunicado em que confirmava que os detentores de bilhetes para o concerto de dia 7 em Algés podiam devolver os referidos bilhetes. Foi o que fiz ontem - o período de devolução é curto, iniciou-se ontem às 10 horas e termina já na terça-feira, dia 26, às 19 horas.
Termina assim de uma forma agridoce esta odisseia. Por um lado tenho pena de não rever uma das minhas bandas de referência na área do hard rock e metal. Por outro, já os vi ao vivo, e aquilo que aí vem a Portugal dificilmente pode ser considerado AC/DC - se o som da bateria de Phil Rudd poderia ser relativamente fácil de copiar, já a guitarra ritmo de Malcolm Young e, claro, a voz de Brian Johnson são irrepetíveis. E só a perspectiva de ouvir uma voz com as características de Axl Rose a avançar por temas como Back in black ou Highway to hell me dá calafrios.
Claro que posso estar enganado, que o vocalista dos Guns'n'Roses seja uma surpresa positiva e dê um grande espectáculo. Mas não creio.
Quanto ainda à saída de Brian, a história parece estar cada vez mais mal contada, agora vem a público dizer que os restantes elementos da banda (tradução: Angus Young) já antes se preparavam para o pôr no olho da rua. Enfim, sendo mesmo esta a derradeira digressão dos (agora semi)australianos, será um correr de cortina pouco digno. 
Ficam recordações de muitos grandes concertos ao longo de tantos anos e, claro, imortalizados em disco, alguns hinos intemporais. Apesar de tudo, "For Those About to Rock, We Salute You". E.M.

AD/DC, Thunderstruck (ao vivo, 1991)



segunda-feira, 18 de abril de 2016

LEGIÃO URBANA  ÍNDIOS

Venerados no Brasil, tecnicamente desconhecidos em Portugal, os Legião Urbana foram de facto um projecto muito conseguido. O mentor era o poeta/cantor Renato Manfredini (que adoptou o apelido Russo, do filósofo Rousseau), um jovem de uma sensibilidade e uma inteligência e um conhecimentos notáveis. Ainda bem que os colocou ao serviço da música pop-rock, antes de morrer de SIDA em 1996, aos 36 anos. A nível sonoro, não estaremos muito longe da verdade se definirmos os Legião Urbana como os Smiths de Brasília, nomeadamente no segundo álbum, Dois, de 1986, de onde extraí este maravilhoso Índios, cuja letra (que segue em baixo), a um tempo profunda e ligeira, actual e enraizada na história brasileira, parece ser aspirada da boca de Renato para os nossos pulmões. E.M.


Legião Urbana, Índios (1986)



Quem me dera, ao menos uma vez
Ter de volta todo o ouro que entreguei
A quem conseguiu me convencer
Que era prova de amizade
Se alguém levasse embora até o que eu não tinha

Quem me dera, ao menos uma vez,
Esquecer que acreditei que era por brincadeira
Que se cortava sempre um pano-de-chão
De linho nobre e pura seda.

Quem me dera, ao menos uma vez,
Explicar o que ninguém consegue entender:
Que o que aconteceu ainda está por vir
E o futuro não é mais como era antigamente.

Quem me dera, ao menos uma vez,
Provar que quem tem mais do que precisa ter
Quase sempre se convence que não tem o bastante
E fala demais por não ter nada a dizer

Quem me dera, ao menos uma vez,
Que o mais simples fosse visto como o mais importante
Mas nos deram espelhos
E vimos um mundo doente.

Quem me dera, ao menos uma vez,
Entender como um só Deus ao mesmo tempo é três
E esse mesmo Deus foi morto por vocês
É só maldade então, deixar um Deus tão triste.

Eu quis o perigo e até sangrei sozinho.
Entenda - assim pude trazer você de volta pra mim
Quando descobri que é sempre só você
Que me entende do inicio ao fim
E é só você que tem a cura pro meu vício
De insistir nessa saudade que eu sinto
De tudo que eu ainda não vi

Quem me dera, ao menos uma vez
Acreditar por um instante em tudo que existe
E acreditar que o mundo é perfeito
E que todas as pessoas são felizes

Quem me dera, ao menos uma vez
Fazer com que o mundo saiba que seu nome
Está em tudo e mesmo assim
Ninguém lhe diz ao menos obrigado

Quem me dera, ao menos uma vez
Como a mais bela tribo, dos mais belos índios
Não ser atacado por ser inocente

Eu quis o perigo e até sangrei sozinho
Entenda: assim pude trazer você de volta pra mim
Quando descobri que é sempre só você
Que me entende do início ao fim
E é só você que tem a cura pro meu vício
De insistir nessa saudade que eu sinto
De tudo que eu ainda não vi

Nos deram espelhos e vimos um mundo doente
Tentei chorar e não consegui




sexta-feira, 15 de abril de 2016

THE CULT Lil' devil

Ninguém pode acusar os britânicos The Cult de não serem aventureiros sónicos. Começaram num post-punk audacioso (Spiritwalker), passaram para o gótico na altura do álbum Love (She sells sanctuary), e nos anos 90 andaram mesmo por vizinhanças do trip-hop e do cantautorismo boémio de esquerda norte-americano (Sacred life). Mas também deram forte, e feio, no hard rock mais abrasivo. Foi em 1987, com o álbum Electric (só o nome é já todo um programa de acção), para o qual foram buscar o superprodutor Rick Rubin.
Num disco que deve muito aos Led Zeppelin e aos AC/DC, Ian Astbury (voz) e Billy Duffy (guitarras), o núcleo criativo constante da banda, conseguem mesmo assim dar um cunho pessoal. São pormenores, como o espaço nos riffs de Duffy, ou as variações de tom da voz de Astbury, que carregam canções da mediania para uma genialidade que se cola à pele e ao ouvido. Um dos singles foi este Lil' devil. Que Brett Easton Ellis, em Menos que Zero, utiliza para descrever um tipo de meninas californianas, que iam às discotecas com saias de folhos dançar ao som de Lil' devil. Curta, incisiva, intemporal. E.M.

The Cult, Lil' devil (1987)



sábado, 9 de abril de 2016

THE BREEDERS CANNONBALL

Primeira incursão na constelação Pixies-Breeders-Belly-Throwing Muses, ou seja, naquilo que de melhor o rock independente e inteligente dos Estados Unidos nos deu nos anos 80 e 90. 
As Breeders foram nos anos 90 a forma de escape de Kim Deal, que, baixista nos Pixies, tinha uma relação muito tensa com Black Francis, que, nomeadamente, quase não a deixava cantar ou apresentar composições para a banda de Boston gravar. Deal chamou outra alma inquieta – Tanya Donelly, que enfrentava nas Throwing Muses situações semelhantes com a sua irmã e "boss", Kirstin Hersh. O primeiro álbum, Pod (1990), era de uma enorme rudeza e rugosidade, gentileza do superprodutor alternativo Steve Albini, que o transformaram num dos favoritos de Kurt Cobain.
Mas foi com Last Splash (1993) que as Breeders (agora já sem Tanya, que saíra para fundar as Belly, mas já com Kelley Deal, irmã de Kim... isto já parece a trama de uma novela mexicana) alcançaram o que ainda era possível nesses dourados anos 90: êxito comercial e crítico com um álbum de rock alternativo bem puxado e que tanto jogava no melódico como no "noise".
De entre um disco muito regular, acabámos por escolher o tema de ponta, Cannonball.
Mudanças de ritmo, guitarras a entrar e a sair, vozes gritadas e atiradas por poços, "breaks", floreados de guitarras por aqui e por ali, e um refrão que parece uma banda inteira a cair pelas escadas do estúdio. 
O videoclipe é uma enciclopédia dos tiques de indie rock (banda a "tocar" mais imagens avulso de objectos em estranhos contextos), e cabeça de vocalista no aquário como viria a fazer o amigo Thom Yorke dos Radiohead. E assim temos um clássico indie instantâneo.
A banda depois perdeu gás, as manas meteram muito pó pelas veias, e os velhos grupos originais voltaram a reunir-se e a desfazer-se... Mas isso já é outra história. E.M.

The Breeders, Cannonball (1993

terça-feira, 5 de abril de 2016

AC/DC A GRANDE CONFUSÃO

Mais valia ter estado calado... É que a alegria pela visita dos AC/DC a Portugal a 7 de Maio transformou-se, se não numa grande desilusão, pelo menos numa grande embrulhada que não se sabe onde vai acabar.
Expliquemos: para começar, da formação canónica pós-1979, ou seja, depois da morte do vocalista Bon Scott, já não vinham dois elementos. O baterista Phil Rudd não pode deixar a Nova Zelândia, devido a problemas legais (ameaças de violência, agressões, julgamentos...). O guitarra-ritmo Malcolm Young, diagnosticado com um princípio de demência, abandonou a banda. Mas está bem, vinham os dois sons mais característicos do grupo: a guitarra solo de Angus Young e a voz Brian Johnson.
Soube-se agora que Brian Johnson, sob o risco de ficar surdo, foi intimado pelos médicos a deixar os palcos. O que ele fez.
Resultado: os AC/DC estão sem cantor, as datas americanas que deviam estar a ser tocadas por estes dias foram adiadas, e correm os boatos mais desencontrados sob um possível vocalista convidado para os concertos na Europa. O nome mais falado é o de... Axl Rose!?...
Agora sinceramente: estou à espera de notícias mais concretas sobre a data em Algés para saber o que faço. A promotora Everything Is New está calada que nem um rato. Ou seja, não se sabe se vai haver concerto em Maio, se for adiado para quando o será, quem será o vocalista, pode-se legalmente devolver os bilhetes em caso de mudança de cantor?...
Muitas dúvidas. Se fosse só por mim, e que já os vi ao vivo, mandava o Axl Rose dar uma volta (sou fã dos Guns'n'Roses, mas cada macaco no seu galho), mas tenho cá em casa juventude que adora AC/DC e poderá não ter outra hipótese de os ver ao vivo... Mas será que ainda serão os AC/DC, ou uma outra coisa qualquer?
Esperamos pelas cenas dos próximos capítulos. E.M. 

P.S.: O que é hilariante é que Brian Johnson não deu cabo dos ouvidos em cima do palco, mas sim nos carros desportivos que conduz para o programa de televisão que apresenta!

AC/DC, Highway to hell (1979)   




domingo, 3 de abril de 2016

Morcheeba Rome wasn't built in a day

Música quentinha, soalheira, boa onda, divertida, melódica e com um refrão infeccioso até dizer chega. Rome wasn't built in a day chega-nos cortesia dos ingleses Morcheeba, um dos muitos projectos que se agruparam sob a grande umbrela do trip hop mas que eram bem mais soul pop do que outra coisa. A voz é de Skye Edwards, a produção, composição e instrumentação ficam a cargo dos manos Paul e Ross Godfrey. O videoclipe é uma deliciazinha, antecipando a mania das flashmobs que viriam poucos anos depois – este tema é de 2000. E a letra, simples mas tocante: "you and me / were meant to be / walking free / in harmony." Que os Morcheeba e a sua swingante boémia ajudem a Primavera a chegar. É que já não há pachorra para a chuva,vento e frio que entram pelas casas portuguesas. E.M.

Morcheeba, Rome wasn't built in a day (2000)



sexta-feira, 1 de abril de 2016

Étienne Daho Mon manège à moi

Regressado de uns dias em terras francesas, aqui fica uma pequena homenagem a um dos mais importantes nomes da últimas décadas das artes musicais por aquelas bandas: Étienne Daho. Podia ter ido por Saudade (1991), tema dedicado a Portugal, por onde andou bastante e por onde se apaixonou, mas decidi avançar mais um par de anos, e mostrar a belíssima recuperação que Daho fez de Mon manège à moi, uma canção que a imortal Edith Piaf levou à fama. Daho faz uma limpeza muito anos 90, dançável mas suave, sentida mas um pouco irónica, mostrando como uma "chanson" pode passar a "pop" sem perder identidade ou força. Teledisco todo em preto e branco, pleno de signos, semanticamente muito interessante. "Bonjour à tous." E.M. 

Étienne Daho, Mon manège à moi (1993)