It's a one time thing
It just happens a lot

Suzanne Vega

segunda-feira, 28 de agosto de 2017

VILAR DE MOUROS - UM BALANÇO


Do primeiro dia, 24 de Agosto (quinta-feira), apenas, do festival minhoto. Do melhor para o pior:

The Young Gods. O trio suíço arrasou. Começando com temas mais calmos do seu lado ambient/atmosférico, foram subindo as rotações e os decibéis, passando por versões aumentadas, melhoradas e diversificadas de temas da sua longa carreira. Formação canónica - bateria, teclas/samplers e voz/guitarra, neste último caso a cargo do "presidente da junta", Franz Treichler, que conseguiu juntar as pontas teatrais e musicais, esconjurando imagens alternadamente bucólicas e industriais. E os samplers de guitarras (uma pedrada no charco nos anos 80) continuam com uma potência e um mistério únicos.  

The Jesus and Mary Chain. Regresso dos escoceses irmãos Reid, William e Jim (não confundir com Charlie e Craig Reid, irmãos escoceses que compõem os Proclaimers, também muito estimados aqui pelo blogue). Na versão mais habitual dos últimos anos - Jim na voz, William na guitarra, mais bateria, baixo e segunda guitarra -, atacaram logo com Amputation, o tema de ponta do último de originais Damage and Joy, passaram aos êxitos (April skies, Head on), agradaram aos fãs com Some candy talking, e no final, dado que neste dia também estava no cartaz Bobby Gillespie (vocalista dos Primal Scream), que foi o baterista em Psychocandy (1985), o álbum de estreia dos JAMC, chamaram ao palco o amigo, que bateu desalmadamente na tarola em Just like honey, The living end e Never understand. Bem aproveitado, culminando uma apresentação em que os delírios de efeitos foram suplantados pela força sónica e pelas melodias. 

The Veils. Os (relativamente) "jovens" do alinhamento abriram as hostilidades (20 horas) ainda com sol e pouca gente frente ao palco. Quando acabaram era noite, e muitos espectadores que chegaram tinham ficado convencidos da boa vontade do projecto liderado por Finn Andrews. Quanto a mim, reconheço o empenho, a procura de novas avenidas líricas, um certo desprezo pelas regras do bem tocar que são charmosos, mas o template é muito curtinho, e fica-se com a impressão de que lhes falta algo para dar o salto. Talvez mais experiência de vida e de infelicidade. Afinal, não é Nick Cave quem quer... 

The Mission. Tinha muitas expectativas para rever os Mission, sobreviventes das vagas góticas dos anos 80. Defraudadas é a palavra. Outra palavra: "flat". Uma actuação sem altos nem baixos, com os êxitos da praxe (Wasteland, Tower of strenght, Severina), mas com arranjos anódinos, um som abafado, e um Wayne Hussey (o líder, vocalista e guitarrista que é os The Mission) sem chama, mais interessado na garrafa de tinto que ia bebendo entre os temas. Deve ser influência dos compadres brasileiros, pois ele nos dias que corre vive em São Paulo. Destaque para Met-Amor-Phosis, de 2016, numa versão a fazer lembrar... os Sisters of Mercy. Para quem não se lembra: Wayne Hussey e Carl Craig (baixo) faziam parte dos Sisters, mas aborreceram-se com Andrew Eldritch e saíram para formar os Mission. E uma palavra para Mike Kelly, o baterista, um verdadeiro metrónomo humano. Devia arranjar uma banda mais interessante... 

Primal Scream. Quando um grupo tem que interromper o seu primeiro tema e ir pedir um amplificador de guitarra aos amigos Jesus and Mary Chain, as perspectivas para o resto do set não são as melhores - e confirmaram-se. Vejamos: Bobby Gillespie nunca teve grande voz, mas em Vilar de Mouros esteve abaixo de quaisquer níveis aceitáveis, de projecção, de afinação... E depois de décadas de palco já devia saber que quando se mexe a cabeça tem que acompanhar o movimento com o braço do microfone... A versão dos Primal Scream que esteve no Minho foi de economia rasca, de elementos díspares que não se ligavam. O guitarrista (mesmo assim o melhorzinho da pandilha) parecia vindo de uma banda de covers num paquete de cruzeiros, a secção rítmica tocava cada um para seu lado (ó Mani, por que regressaste aos Stone Roses? Colocaram no teu lugar uma jovem que não tem qualquer groove a tocar o baixo), o baterista errático. Um som péssimo. E os temas de Screamadelica, esse monumento de dança dos anos 90, perderam toda a beleza e pujança em palco. Para esquecer. E.M.  


The Jesus and Mary Chain, Just like honey (c/ Bobby Gillespie), 24 de Agosto de 2017


*com agradecimentos a Paul Chicharo, Youtube

terça-feira, 22 de agosto de 2017

EM ESTÁGIO PARA VILAR DE MOUROS

O velhinho Festival de Vilar de Mouros, mesmo pertinho do rio Minho e da Galiza, continua a reinventar-se, aumentando e especializando-se em nomes e sonoridades, digamos, veteranas. O ano passado teve, por exemplo, uma portentosa estreia no país - Orchestral Manouevres in the Dark.
Este ano os três dias de música (24, 25 e 26 de Agosto, ou seja, quinta a sábado) estão desequilibrados, os interessante são os das pontas, e na impossibilidade de estar quatro dias no local, a opção lógica é deixar cair 26 (com Morcheeba, Psychedelic Furs e Boomtown Rats) e 25 (Dandy Warhols), e apostar na abertura, que tem um alinhamento de respeito. A saber, e já com horários:

20h - The Veils
21h - The Young Gods
22h20 - The Mission
23h50 - The Jesus and Mary Chain
1h20 - Primal Scream

Indie rock, gótico, acid, industrial, ou seja, uma colectânea do melhor das sonoridades alternativas dos anos 89 e 90. Encontramo-nos lá. E.M.


Rocks, Primal Scream (1994)





terça-feira, 8 de agosto de 2017

TÓ SEMEDO  KA BU BAI

Cabo Verde é uma nação baseada na cultura e especialmente na música. Tudo canta, tudo toca, tudo dança. Num mundo tão vasto, a dificuldade é por onde começar. Assim de repente, surgiu-me Tó Semedo. Muito ligado à (tão injustamente vilipendiada) kizomba, parece-me que o cantor é bem mais do que isso. Há uma sensibilidade e uma doçura e uma maleabilidade na sua voz que, juntamente com uma bela produção, elevam este Ka bu bai (em português, "não te vás embora") a outro nível. E.M. 


Ka bu bai, Tó Semedo (2015)


domingo, 23 de julho de 2017

Morte, grunge e etc.

Parece que os excessos dos anos 90 estão a cobrar dividendos mortais. Os principais expoentes do grunge, para além do maior de todos, Kurt Cobain (Nirvana), logo em 1994, e não esquecendo Andrew Wood (dos Mother Love Bone, que iriam desembocar nos Pearl Jam), começaram a desaparecer de forma violenta nos últimos tempos. 
Primeiro foi Scott Weiland (Stone Temple Pilots e Velvet Revolver), em Dezembro de 2015; depois Chris Cornell, dos Soundgarden e Audioslave, em Maio deste ano; e agora Chester Bennington, dos Linkin Park, na última quarta-feira, 20 de Julho. 
Durante muito tempo pensei que as lições da "turma dos 27" (Janis Joplin, Jim Morrison, Jimi Hendrix), no início da década de 70, tinham de vez ensinado os colegas vindouros sobre o que não fazer e os cuidados a tomar. Mas parece que os prazeres das substâncias continuam a suplantar os avisos... Por muito que eles digam que estão limpos, é muito fácil uma recaída, e o corpo já não tem 20 anos. Se eu fosse o Eddie Vedder tinha muito cuidadinho... E.M.

quinta-feira, 20 de julho de 2017

THE PRETENDERS  
É APENAS ROCK'N'ROLL, E É MUITO

The Pretenders
19 de Julho de 2017 (quarta-feira)
EDP Cool Jazz 
Oeiras, Parque dos Poetas
22h30
(primeira parte: Rita Redshoes)

God damned! Isto sim, foi um concertaço. Os Pretenders não vinham cá ao burgo há quase vinte anos, mas não desiludiram. A veterana banda rock inglesa (se bem que liderada pela vocalista norte-americana Chrissie Hynde) teve os seus dias de glória nos finais dos anos 70 e durante a década seguinte, com êxitos com Brass in pocket ou Don't get me wrong. E se ontem esse sucessos algo pop-rock foram, como disse Chrisse, "despachados", o geral do alinhamento foi rock'n'punk sem mariquices nem grandes penachos técnicos. Versões curtas, poucos solos, muita guitarrada distorcida (grande achado em James Walbourne na guitarra-solo), tudo a viajar à vista da capitã Hynde,que comandava a banda com um pé no casual e outro na dama de ferro. Como ela bem disse, numa das muitas interacções com o público: "Vamos tocar uma canção rock. Bem, só vamos tocar rock!"

Na bateria esteve, como sempre desde há 35 anos, Martin Chambers. Kid foi dedicada a James Honeyman-Scott e Peter Farndon, os outros dois elementos originais, ambos falecidos muito prematuramente por overdose. Belas interpretações de Stop your sobbing e I go to sleep, compostas por Ray Davies (The Kinks), o primeiro marido de Hynde. E incendiárias aparições de Thumbelina e Precious, esta já no encore.
E a voz, perguntam? Para uma senhora de 65 anos, esteve muito bem, colocando como deve ser o seu estilo lânguido-furioso (e a sua guitarra-ritmo) a reboque da batida de Chambers. Pode nunca ter tido a melhor voz do mundo, mas é inconfundível e conseguiu que as agruras da vida não lhe afectassem muito as cordas vocais. 

O estádio do Parque dos Poetas não estava muito mais do que meio, e a noite algo agreste, mas os entusiastas reagiram bem à energia que vinha do palco, num concerto que passou num ápice (apesar de ter começado bem tarde, pois ainda actuou a portuguesa Rita Redshoes, que parece sempre esforçar-se muito para alcançar resultados medianos). Uma pergunta: não se pode exterminar os "paus de luz" que o merchandising da EDP andava a distribuir? Parecia uma rave psicadélica... 

Chrissie é uma danada para a brincadeira, mas não é se de brincar com ela, manteve tudo forte e agressivo mas com bom coração. Ou seja: o coração do rock já entradote esteve aqui, e não, por exemplo, na actuação "macdonaldizada" dos Guns 'n' Roses há mês e meio em Algés.
E tudo apenas por 25 euros. Pechincha do ano. E.M.




terça-feira, 18 de julho de 2017

CORO INFANTO-JUVENIL
DA UNIVERSIDADE DE LISBOA

No último sábado fui à Aula Magna da Universidade de Lisboa assistir a um grande concerto com pequenos cantores: Mecanik, duas horas de um extenso e variado reportório a assinalar os 12 anos de actividade do Coro Infanto-Juvenil da Universidade de Lisboa. O projecto, liderado desde o início por essa força da Natureza que é a maestrina Erica Mandillo, é um dos mais consistentes em Portugal, aumentando em número de cantores, em projecção internacional, e mantendo sempre a fasquia qualitativa alta, e buscando composições em muitas latitudes e autores. Daqui já saíram meninos e meninas para começarem carreiras. Muitos cantam, e bem, apenas pelo prazer de cantar em conjunto. Junto um clipe mais antigo (2012), na Suíça, com Dormi menino dormi, tradicional da ilha de São Jorge, Açores, com arranjo de Fernando Lopes Graça. E.M.

Quem quiser saber mais, nomeadamente se tiver filhos com vontade de cantar, pode informar-se aqui.


Coro Infanto-Juvenil da Universidade de Lisboa
Dormi menino dormi (2012)


segunda-feira, 10 de julho de 2017

JOÃO GIL POR... 
TANTO QUE LHE DEVEMOS

João Gil por... é um CD duplo em que o dito João Gil pega em canções da sua longa e proveitosa carreira, convida amigos, admiradores e admirados, e juntos fazem versões com novos arranjos. João Gil, para quem tem andado com os ouvidos tapados nas últimas décadas, é um dos mais prolíficos compositores (e guitarristas, e produtores) de Portugal - foi pedra-base nos Trovante, na Ala dos Namorados, nos Rio Grande, nos Cabeças no Ar, nos Tais & Quais, no Baile Popular, etc.
Ou seja, aqui o difícil seria a escolha, tal o baú de preciosidades e de amigos e colegas dispostos a embarcar na aventura. Dos 28 temas (na versão mais alargada), ficam no ouvido:
- 125 azul, numa pintura mais moderna, com um arranjo inovador, juntando uma surpresa, a voz de Carlão, vindo da área do hip-hop, em primeira plano em registo de spoken word, e a (creio que minha prima afastada) Lúcia Moniz, a fazer a melodia em segundo plano. Melhor do que o original, em que a voz de Luís Represas sempre me pareceu um pouco... flat
- Rosa albardeira, muito bem adaptada ao registo intimista e acústico de António Zambujo.
- História do Zé Passarinho. Que grande bofetada em alguns sectores bem-pensantes, o inesperado convite a Quim Barreiros e Herman José, que transformam o primeiro êxito da Ala dos Namorados numa festa com um pé no Minho e outro em Lisboa, mostrando a velhacaria e sabedoria de outros mundos vocais.
Ainda uma menção honrosa para o inédito Credo, que se por um lado mostra as limitações vocais de João Gil, também ilumina muito do que o transformou num marco da música nacional: grande dedo para a melodia, percepção da instrumentação e do espaço na canção, e a escolha judiciosa de poetas e letristas, neste caso a imensa Natália Correia. 
Bem-hajam todos os que embarcaram nesta aconchegante viagem. E.M.




João Gil com Carlão e Lúcia Moniz, 125 azul (2017) 




segunda-feira, 26 de junho de 2017

TOZÉ BRITO BIOGRAFIA DESAPONTANTE

Consegui por fim terminar a biografia "oficial" de Tozé Brito, escrita por Luciano Reis e editada em Fevereiro. E quando não devoro rapidamente um livro biográfico da área da música, os sinais de alarme começam a soar. E há que reconhecer que Tozé Brito - Eu sou um outro tu não é uma leitura muito agradável, nem muito escorreita, e, pecado capital numa publicação deste género literário, nem muito informativa.

Trata-se de uma biografia cinzentona, muito respeitosa, com tiques de escrita de outros tempos, e, suponho, terá passado pela lupa aprovadora do visado. 
O que deixa sabor mais amargo na boca: 
- as longas diatribes (muitas vezes com pouco conteúdo, nem sim nem não antes pelo contrário) sobre assuntos esotéricos ou colaterais à música e à vida e que pouco adiantam para a compreensão da personagem (veja-se, por exemplo, na página 126, o parágrafo sobre o aborto, que fica aquém do perceptível);
- os lugares-comuns: a família, a família, a família, o amor pela família, a obrigatória passagem, mesmo assim muito leve, pelas drogas, o que actualmente é tudo menos arriscado de publicar;
- a sensação de uma oportunidade perdida para se saber mais sobre o que realmente interessa, ou seja, a música, a composição, a gravação, os contratos, os artistas. Para uma das duas personagens fulcrais da música portuguesa das últimas décadas - a outra é Pedro Ayres Magalhães -, fica muito pouco sumo.
O entrevistador não arriscou, não quis fazer uma análise do que lhe era dito, não questionou - ou se o fez Brito não deixou avançar. Assim, ficámos a saber muito pouco sobre o biografado e a sua (e nossa) música. É pena. E.M. 


Tozé Brito - Eu sou outro tu, por Luciano Reis, edição Parsifal, 1.ª edição de Fevereiro de 2017





quarta-feira, 14 de junho de 2017

SALVADOR SOBRAL Mediania irrelevante

Agora que a histeria já passou, também vou botar os meus sete e quinhentos sobre o fenómeno Salvador Sobral, que conseguiu uma inédita vitória para Portugal no Festival da Eurovisão, com Amar pelos dois, escrito pela sua irmã Luísa.

Antes de mais, um aviso: consegui não ouvir a canção na totalidade até ontem, apenas aqueles bocadinhos que escapavam das televisões ou dos rádios. E agora que, com calma, vi e ouvi Amar pelos dois, acho que:
- é uma cançãozinha de recorte clássico, limpinha, mas não entusiasmante. Muito ao jeito dos tempos que correm, sem paixão, mas fingindo-a.
- a interpretação de Salvador vale mais pela excentricidade do que pela voz, sempre tremelicante e muito perto do desafinanço.
- a imagem é claramente irritante, com todos os lugares-comuns dos hipsters, desde a barba selvagem ao inenarrável "man bun" (cabelo em carrapito que devia ser proibido pelo bom senso nos homens).
- olhando para as antigas aparições de SS em programas de talentos de televisão, fica a noção de que é um camaleão à procura do que melhor se adapta à espuma dos tempos. Ou seja, quem era um betinho quer agora vender-ser como uma rebelde sentimental. Não cola. 

Resumo: uma canção mediana, por um intérprete que não convence nem na voz nem na sinceridade, para um festival irrelevante. E a vitória de Sobral e Amar pelos dois é um insulto à música nacional, quando pensamos que temas excepcionais como Desfolhada (Simone) e E depois do adeus (Paulo de Carvalho) ficaram-se lá pelos baixios das classificações europeias. E.M. 

quarta-feira, 7 de junho de 2017

GUNS N' ROSES

A MÁQUINA DE SOLOS PROFISSIONAIS


PASSEIO MARÍTIMO DE ALGÉS, LISBOA/ALGÉS
2 DE JUNHO DE 2017 (sexta-feira), 20h50 

Mais um regresso a Portugal, de mais uma banda que "nunca" se voltaria a reunir. Mas a vida estava a ser madrasta para Axl Rose (o vocalista que manteve o nome nos negros anos 2000) e Slash, o guitarrista que saiu em 1996, iniciando de facto o fim da formação canónica de uma das mais importantes bandas do hard rock dos anos 80 e 90. 

Mas Slash divorciou-se há pouco tempo da mais recente esposa, Perla, e o acordo deve ter envolvido muitos milhões de dólares, a grana estava a escassear... Os anos passaram, as incompatibilidades entre os dois "machos alfas" do grupo de Los Angeles foram-se alisando, e o "impensável" aconteceu; digressão mundial. Presentes da formação inicial Axl, Slash e baixista Duff McKagan, mais o teclista Dizzy Reed, que gravou os duplos álbuns Use Your Illusion I e II.

Na paragem em Algés, o que se viu foi uma máquina muito bem oleada, com um alinhamento (praticamente inalterado desde o inicio da tournée) com quase todos os êxitos (terá faltado Don't cry e, para mim, I used to love her), versões normalmente bem conseguidas, muitos, muitos, muitos solos de Slash, e uma ou outra surpresa. A setlist pode ser consultada AQUI.

Ideias principais: Slash é dos rockers mais cool em cima de um palco. Axl Rose é dos menos cool em cima de um palco: gordo, feições disformes, cada vez mais parecido com Meatloaf. E com aqulla voz esganiçada de hillbilly de Lafayette, que nunca me convenceu.
Resultado: abordei o concerto dos Guns como essencialmente de instrumentais, em que a voz de Rose era apenas mais um som, como se fosse uma base de sintetizador marado.

E assim, foi um belo concertaço, quase três horas. Bom som, boa multidão - talvez demasiada multidão, estava muita, muita, muita gente, os tempos de entrada, saída, filas para comida, merchandising e etc. intermináveis, como há muito não via.

Destaque para boas rendições de You could be mine e Civil war, e a baladona November rain. Nas versões, recuperaram em boa hora Whole lotta Rosie dos AC/DC (que muito influenciaram os Guns n' Roses e que tocaram o ano passado neste mesmo local com Axl Rose a substituir Brian Johnson! A vida dá cada volta...), e especialmente Black hole sun, dos Soundgarden, em jeito de homenagem ao muito recentemente falecido Chris Cornell, vocalista daquela banda de grunge de Seattle. Ah, claro, e Wish you were here, dos Pink Floyd, apenas com as guitarras de Slash e Richard Fortus

Sweet child o'mine continua bonita (e o intro a ser o que os putos mais usam em lojas de instrumentos musicais para testar guitarras eléctricas. Ainda bem, já não havia pachorra para Smoke on the water ou Stairway to heaven), e Paradise city um favorito do povão. Pensando bem, o álbum de estreia, Appetite for Destruction (1987), foi tocado quase na íntegra. Sinal de que a ideia era voltar aos tempo de juventude e de inovação, deles e dos espectadores. Tarefa cumprida. E.M.









domingo, 4 de junho de 2017

Quatro horas para vestir um colete
(ou as minhas aventuras enquanto figurante)

Tudo o que diz respeito a artes (bem, quase tudo) me interessa. Assim, quando vi um anúncio a pedir figurantes para o filme/minissérie Ruth, não hesitei. Fui chamado, e lá me dirigi numa noite de segunda-feira a um famoso restaurante lisboeta para a filmagem de três cenas: chegado às 22h30, só abandonei o plateau pelas 9h30 da manhã seguinte - estoirado, naturalmente.
Conclusão: é preciso uma imensa paciência para se fazer cinema. Basicamente o que se faz é esperar. Esperar para se ser maquilhado. Esperar para se ser penteado. Esperar para se vestir. Esperar que o chamem. Esperar que coloquem nos locais todos os adereços, luzes, figurantes, actores, etc. Esperar que se recomece a filmagem, porque a luz não estava bem... Esperar que se recomece a filmagem, porque o som não estava bem... Esperar que se recomece a filmagem, porque o realizador não gostou... Esperar que se recomece a filmagem, porque um dos múltiplos assistentes disse qualquer coisa... Esperar que se recomece a filmagem, porque... bem, porque sim, por que não? 
Enfim, valeu pela possibilidade de ver como funciona por dentro esse mundo, muito menos glamoroso do que seria de esperar - e não pelo pagamento, tão abaixo de simbólico que nem me atreverei a mencioná-lo.
Ruth é uma produção da Leopardo, com realização de António Pinhão Botelho (filho da jornalista Leonor Pinhão e do realizador João Botelho). Tem estreia marcada para 2018, e trata da luta entre Benfica e Sporting para contratar e trazer Eusébio de Moçambique, em 1961. E.M.   




sábado, 3 de junho de 2017

Casa da Cerca    Fazer sentido


A Casa da Cerca é uma pequena jóia situada no alto de Almada, zona histórica com vista privilegiada para o Tejo e um maravilhoso jardim. No palácio, propriedade da câmara municipal local, funciona o museu - Centro de Arte Contemporânea, em cuja galeria principal está exposta Fazer sentido, ao longo deste ano de 2017.
Obras de Amélie Ducommun, Ana Mandillo, Ana Rita António, Edgar Massul, Gabriela Albergaria, João Jacinto, João Leonardo, José Batista Marques, Pamela Garden, Pedro Pires e Susana Pires.
Destaque, meu, para a obra de João Leonardo, que continua um percurso extremamente pessoal e inovador, nomeadamente na utilização de restos dos vícios corporais, como as beatas do cigarros por si fumados. E.M.





sábado, 27 de maio de 2017

Farewell to Moore

Bond há só um, Sean Connery e mais nenhum.
Mas Roger Moore, que se lhe seguiu entre 1973 e 1985, também tinha o seu charme, e teve a sorte de interpretar o agente 007 numa altura em que a série ainda era bem-disposta e politicamente incorrecta. Um dos filmes que o recentemente falecido sir britânico "estrelou" foi Octopussy (só o trocadilho com o octópode marinho e o calão para as partes baixas femininas é deliciosamente brejeiro), de 1983, e que tem como tema principal All time high, da irrepreensível Elkie Brooks. Muita gente coloca-o entre os piores temas de Bond, mas eu não podia estar mais em desacordo. Tem uma maravilhosa dinâmica entre os versos quase sussurrados e o refrão elevadíssimo, a melodia é adorável, e apresenta pormenores deliciosos como o saxofone na introdução e a batida dupla no bombo, bem como o arranjo de cordas no refrão. "Back to the 80's, let's go!" E.M.

Elkie Brooks, All time high (1983)  


quarta-feira, 24 de maio de 2017

Efeito Manchester

Era previsível. O facto de o atentado ter acontecido numa sala de espectáculos levou à histeria e à tentação securitária. Na própria noite, ainda sequer sem se saber se era atentado ou acidente, já um "especialista" perorava num dos canais da TVI que era necessário considerar as salas e estádios de concertos como locais de confronto, pois, e estou a recorrer à memória, o facto de os presentes serem jovens não significa que não sejam perigosos e temos que os ter no radar de vigilância. Perdão?
Depois, veio a confirmação de que o exército britânico, armado, vai marcar presença nos espectáculos.
E por cá, segundo notícia do Público, um promotor de espectáculos, que (avisadamente) não quis ser identificado, diz que tem que se "agilizar a lei" para permitir que os seguranças nos concertos possam revistar à vontade os espectadores, e não apenas, como acontece até agora, e bem, apenas os polícias o possam fazer. Junte-se a isto, também no Público, a indicação de que vão ser colocadas barreiras de cimento nos acessos aos festivais de Verão em Portugal, e já se vê os níveis de imbecilidade a subirem.
A verdade é que estas medidas são vitórias dos terroristas. Os fãs dos cortes das liberdades, da vigilância da sociedade, do controlo da diversão, os vendedores de equipamentos de segurança, chamam um figo a todas estas medidas tendencialmente irrelevantes. Se um bombista quiser, consegue. 
Por outro lado, não creio que qualquer fã de música queira ser assediado por um segurança ignorante - sejamos claros: a Europa (ainda) não é os Estados Unidos, onde a cultura de violência e intimidação das empresas de segurança privadas, fortemente armadas e inimputáveis, podem, e fazem-no, espancar um espectador e atirá-lo para fora da sala só porque não gostaram da sua atitude.
Em resumo: segurança, sim, mas mínima, a cargo da polícia, e longe dos locais. Seguranças sem armas - são trabalhadores iguais a quaisquer outros, sem mais direitos. Agradece quem gosta de assistir calmamente a um bom concerto. E.M.   

sexta-feira, 19 de maio de 2017

Música a música (Song to song) TERRENCE MALICK

Cinema El Corte Inglés, Amoreiras e Vasco da Gama (Lisboa) e Oeiras Parque (Oeiras)
Pelo menos até à próxima quarta-feira, dia 24 de Maio



O anti-La La Land, basicamente. O protagonista é o mesmo - Ryan Gosling, a fazer quase a mesma personagem, um músico perturbado à procura de sucesso numa cidade americana, neste caso Austin, Texas, dona de uma vibrante comunidade musical e de um dos mais importantes festivais a nível global. Nas cores, são ambos deslumbrantes. Mas as semelhanças terminam aqui. Em Song to Song estamos em terrenos tristes, negros, niilistas e obcecados.
O realizador Terrence Malick regressa às suas figuras de estilo. Longos planos, muito silêncio, muito espaço livre de seres humanos, muitas sequências que vivem de uma semi-improvisação que leva os corpos a cirandar fantasmagoricamente pelos apartamentos e moradias de luxo texanas. Rooney Mara é a jovem perdida que se apaixona por Gosling, mas não deixa de manter um caso com o seu proto-sádico ex-patrão Michael Fassbender, amigo e mentor de Gosling, que casa com uma surpreendente Natalie Portman, envelhecida e desesperada. Um triângulo amoroso que é apenas um pretexto para as divagações em voz off, que acabam por nos despistar mais do que explicam.
Em resumo: poderia ser The Thin Red Line, do mesmo Malick em 1998, mas em terra e com figuras femininas. Um fresco imenso, visualmente brilhante, interpelante, mas com um vazio (como o das personagens?) desconfortável. Um filme que, simultaneamente, nos extasia, nos perplexa, nos entedia e nos aborrece. É obra. 
Uma última palavra para a banda sonora, vasta e abrangente, desde o tex-punk e as baladas neogóticas até música sacra coral. E outra para as muito breves aparições de nomes conhecidos do mundo musical, como os Red Hot Chili Peppers, Iggy Pop ou Patti Smith. E.M.




Música a música (Song to song), Terrence Malick (2017)


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