RUI VELOSO DONZELA DIESEL
Toda a gente saba quem é Rui Veloso, que o seu álbum de estreia, Ar de Rock (1980), é a pedra inicial do chamado rock português, e que foi aqui que um jovem do Porto que assinava Carlos Tê mostrava que iria ser um dos melhores letristas da praça.
Mas o que passou mais despercebido é que António Pinho – o homem que produziu o disco e constituía, juntamente com Nuno Rodrigues, o núcleo da Banda do Casaco – também botou faladura, escrevendo as letras para dois temas: Miúda (Fora de mim) e Donzela diesel. Esta última ficou escondidinha mesmo no final do lado B da versão vinil, mas sempre considerei isso uma grande injustiça e desconsideração.
Se não acredita, ouça. Só aos 17 segundos entra a voz de Veloso, que com meia dúzia de palavras de Pinho define um ambiente e uma personagem – seja "call girl", prostituta ou alternadeira: "andas aí no ataque / nas boites da moda". Para um teenager suburbano com pouco conchecimento da vida do bas fond, isto parecia tão alienígena como um álbum conceptual dos Yes sobre o fundo dos oceanos. Mas ao contrário dos secantes sinfónicos ingleses, aqui fiquei logo "agarrado".
A própria metáfora do título é brilhante (mulher como máquina, o trabalho incessante, o combustível sendo o whisky, etc.). Toda uma vida embrulhada num belo blues-rock essencialmente acústico, a que não falta a harmónica do Rui a manter a cadência ferroviária. Como dizia o outro, os últimos serão os primeiros. Neste caso, a última canção do disco tinha mesmo qualidade de abertura, mas essas honras ficaram para a prima mais bem comportada: a Rapariguinha do shopping abre Ar de Rock. E.M.
Rui Veloso, Donzela diesel (1980)
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