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Suzanne Vega

sábado, 11 de julho de 2015

TRÊS TRISTES TIGRES, Anjo da Guarda

Os Três Tristes Tigres foram um dos casos mais singulares em Portugal na década de 90. Desde logo pelo nome - se por um lado remete imediatamente para uma área querida da banda, a linguística, e para as raízes populares portuguesas, por outro é muito difícil de pronunciar. É um trava-línguas para locutores, e logo um empecilho para um grupo que se queria exposto na rádio. 
Depois, porque era, na génese, exclusivamente feminino (e portuense): Ana Deus, a vocalista tapada por João Loureiro nos Ban; Paula Sousa (ex-Repórter Estrábico, uma muito interessante banda avant-garde); e a poetisa Regina Guimarães. 
A presença de uma escritora mostra a importância dada às letras, que se incluíam num ambiente mais geral de boémia decadente, paixões violentas (como diriam os Heróis do Mar) e um certo gosto mórbido (ver "Epitáfios"). 
Assim sendo, não deixa de ser curioso que o ponto mais alto da sua carreira seja uma versão de um tema alheio - Anjinho da guarda (do grande António Variações), incluída no álbum de homenagem As Canções de António, 1994.   
O original de António Rodrigues Ribeiro era uma rockalhada irónica, terminando em cacofonia e parodiando quem teria anjos da guarda - por exemplo, Reagan, Ramalho Eanes...
Já os Três Tristes Tigres, sintomaticamente passando o substantivo Anjo para o diminutivo Anjinho, optam por um ritmo muito mais lento, por um intimista arranjo de cordas e sopros, com a voz de Ana Deus claramente crente na existência do celeste ser, acompanhada por um sample da voz do original. Foi também por esta altura que Paula Sousa saiu de cena, entrando o ex-guitarrista dos GNR, Alexandre Soares, senhor de dedo para as cordas (ver, nomeadamente, a belíssima clássica em Sete Naves, no álbum Os Homens não se Querem Bonitos, de 1985). Anjinho da guarda funciona então em vários níveis: como homenagem a um nome maior da música portuguesa; como prova da versatilidade de uma canção e de quem dela se apropria; e como belíssima canção de embalar. E.M.

Três Tristes Tigres, Anjinho da guarda (1994)

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