It's a one time thing
It just happens a lot

Suzanne Vega

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Bolsa musical: Mortos famosos #3 John Lennon

Há artistas que morrem novos. São relembrados e recuperados, mas a sua obra, para além do que é obtido nos arquivos do que gravaram mas não chegaram a editar em vida, mantém-se fechada. Mas ao ouvir as suas canções, muitas vezes questiono-me sobre o que poderiam ainda ter feito se não tivessem falecido tão novos. Neste singela rubrica, é mesmo esse exercício de adivinhação que se tenta fazer. Para iniciar: 

John Lennon (morreu a  8 de Dezembro de 1980), com 40 anos
O que é que estão a dizer? Que isto é um sacrilégio? Vamos por partes: John Lennon não é um santo que não pode ser questionado esteticamente. E o que está aqui em causa é a sua arrastada decadência ao longo dos anos 70. Se o início da carreira a solo trouxe portentos como MotherGod e Working class hero, em 1975 era já um saco de estilhaços sentimentais - foi  Elton John (!) que teve que o empurrar para a pífia Whatever gets through the night, o seu êxito do ano anterior -, controlado pela sua "mãe" Yoko Ono, que o colocou em "prisão domiciliária" até 1980. O que não lhe parece ter custado muito, provavelmente ciente da sua bancarrota enquanto compositor face a um mundo que, ali a poucos quarteirões do seu luxuoso apartamento nova-iorquino, se modificava radicalmente através dos punks e new wavers.
A prova final veio com o álbum derradeiro, Double Fantasy, publicado aquando da sua morte em Dezembro de 80, e que é um fac-símile dos seus amores de adolescente, o rock dos anos 50, mas sem a verve ou a raiva, uma mediocridade epitomizada nesse pedido de desculpas sem dignidade que é Woman. O disco final, aureolado pela beleza da morte, continua a rodar por aí. Por mim, volto sempre aos pináculos de entre 1962 e 1970. 
Visto isto, qual poderia ter sido a carreira de John pelas décadas seguintes? A comparar com o seu parceiro de crime McCartney, e pelo que se ouve em Double Fantasy e no mais que póstumo Milk and Honey, temos todas as razões para as maiores desconfianças. No entanto, alguém que tinha dentro de si tanta capacidade de composição e de percepção do mundo poderia ainda fornecer algumas surpresas. 
Probabilidades de futuros êxitos musicais: 15 em 100. E.M.

John Lennon, Mother (1970)


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