Sensivelmente desde meados da década de 2000, as melhores surpresas na música portuguesa vêm não da área do rock mas sim de uma área que se encontra na confluência entre a música popular (fado, folclore), os cantautores e as raízes africanas. Com isto quero dizer os projecto Humanos, a Deolinda, os Diabo na Cruz, Buraka Som Sistema... E Márcia, que hoje trazemos à colação. Chegou ao mundo da música profissional já "avançada" na idade, e proveniente das artes plásticas. Mas chegou com o pacote completo, se me é permitida a expressão. Um mundo conceptual interior bem definido, uma voz límpida e imediatamente reconhecível, uma boa capacidade de composição e ideias delineadas do que queria colocar em disco.
O álbum de estreia, Dá (2011), rodava forte na Antena 3 com este Cabra-cega, que mostra à saciedade estes atributos. Excelência na evolução da canção, grande melodia, palavras enlevantes - "e olha quem tem fome de sinceridade / ao menos não te dei a volta". Os discos seguintes (Casulo e Quarto Crescente) confirmaram tudo o que Dá apresentava, e uma certa timidez não lhe retirou o brilho nas actuações ao vivo - lembro-me, por exemplo, da primeira parte de Suzanne Vega nos Jardins do Marquês de Pombal no Cool Jazz Fest de 2014.
Uma delicadeza e uma determinação que manteremos debaixo do ouvido. E.M.
Márcia, Cabra-cega (2011)
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