It's a one time thing
It just happens a lot

Suzanne Vega

terça-feira, 12 de maio de 2015

Podia ser perfeito, mas... 


Wish You Were, Pink Floyd (álbum, 1975)

No tempo em que a música era apreciada em blocos - x anos de espera, depois um disco com uma dezena de canções, e para ser ouvido todo, e com calma, por ordem de alinhamento -, havia um certo prazer em descobrir em que lugar da hierarquia pessoal (ou de grupo de amigos, que era muito importante) ficaria um determinado disco, quer fosse uma novidade, quer fosse um clássico. E o ponto alto era a discussão que se instalava quando alguém "descobria" um disco perfeito. Wish You Were Here, a obra dos Pink Floyd de 1975, foi um dos casos em apreço. Quanto a mim, lamento, mas seria perfeito se... Já lá vamos.

Como sucessor de Dark Side of The Moon, Wish You Were Here teria sempre uma tarefa difícil para se impor no cânone dos Floyd. As próprias composições foram demoradas, numa altura em que o grupo estava em fase de baixa criatividade, e muitas horas foram passadas em estúdio sem resultados práticos. A situação foi resolvida quando Roger Waters (baixo e voz), em mais um passo no processo de tomada de assalto da liderança da banda, avançou com um conceito que unificasse os trabalhos: alienação, quer do Homem face aos seus semelhantes via tecnologia, quer dos membros da banda entre si, e quer do fundador afastado, devido a problemas mentais, Syd Barrett (que, irreconhecível, fez uma visita aos estúdios da EMI em Abbey Road, os mesmos onde os Beatles gravaram a maioria das suas canções).   

Musicalmente, o álbum vive do imenso fresco que é Shine on You Crazy Diamond, cujas nove partes ficavam tão longas que tiveram que ser divididas em duas autónomas, uma a abrir o disco, outra a fechar. Para muitos, inclusive para David Gilmour (guitarra e voz), esta é a canção mais amada dos Floyd. Tem lá tudo: um imenso saber na moldagem do tempo, a mestria de Rick Wright a construir as camadas de teclados, Gilmour num solo de guitarra eléctrica de assinatura que terá direito a um post próprio mais para a frente, e Waters a cantar como poucas vezes cantou.
Wish you were here, o tema que dá o título ao álbum, é a mais americana das canções dos Floyd, com um pozinhos de country e uma imensidão de guitarras acústicas gilmourianas a ampararem uma das mais citadas letras de Waters (e difíceis de cantar, experimentem subir de oitava na linha inicial no "tell"...).
Roy Harper, esse inglesíssimo trovador que nunca se conseguiu impor de acordo com o talento que tem, é convidado a cantar Have a cigar, relato sardónico da insatisfação de Waters na relação com as editoras discográficas. É aqui que surge a famosa, e pelos visto efectivamente dita por um executivo de uma multinacional aos Floyd, "by the way, which one is Pink?". Sonoramente, é um blues espacial, pontuado pelos soluços de uma guitarra wah wah.
Então, é um dos tais discos perfeitos? Não, porque o quinto tema, Welcome to the machine, é uma imensa sensaboria, sem melodia, sem ritmo, totalmente falho de ideias, com uma letra que meteria dó se escrita por um miúdo da primária. E sim, Roger, temos muita pena que tenhas sido integrado na "Máquina", que em retorno apenas te tornou num multimilionário famoso...

Grande disco, obviamente, e cuja audição implica apenas fazer skip do botão/agulha no final da parte V de Shine...,  e assim evitar Welcome to the machine. Para ilustrar, ficamos com Have a cigar. "Take it away", Roy. E.M.

Pink Floyd, Have a cigar (1975)


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