It's a one time thing
It just happens a lot

Suzanne Vega

domingo, 3 de maio de 2015

Vozes femininas de arrepiar mas sem palavras 

Parte 2: Clare Torry, The great gig in the sky (Pink Floyd)


Mesmo num álbum recheadinho de pontos altos como é Dark Side of The Moon, o clássico de 1973 dos Pink Floyd, The great gig in the sky sobressai. Primeiro, pela majestosidade que o envolve, fruto dos teclados de Rick Wright, que o compôs, através de acordes sumptuosos. Mas, mais do que tudo, pela belíssima e impositiva presença da voz de Clare Torry. 


Apesar dos seus ternos 26 anos, Clare era já uma veterana dos estúdios de gravação londrinos. Quando os Pink Floyd a contactaram para "gritar" por cima do instrumental, ela não se mostrou muito receptiva - parece que tinha bilhetes para um concerto de Chuck Berry... Felizmente que lá foi. Os Floyd não lhe deram grandes indicações sobre o que devia fazer, e ela começou a improvisar na base do "yeah, baby, hoo". Mas não era isso que eles tinham em mente. Decidiu então que usaria a voz como um instrumento, criando como que um drone de subidas e descidas. Gravou dois "takes", e começou ainda um terceiro, mas parou a meio deste, dizendo que já tinha dado o melhor de si que e que começava a repetir-se. Pegou nas 30 libras correspondentes ao pagamento de uma sessão e zarpou. Os Floyd ficaram extremamente impressionados com a obra vocal dela, mas, e dentro da sua famosa reserva britânica, não o deram a perceber. Só meses mais tarde, quando o álbum foi editado, Clare olhou para os créditos e viu o seu nome lá escrito.

                                        The great gig in the sky, Pink Floyd com Clare Torry (1973)


O disco tornou-se um dos mais vendidos de sempre e em 2004 Clare, farta de ouvir o "seu" tema a ser passado e elogiado e sem por isso receber qualquer recompensa, decidiu processar o grupo. Os tribunais deram-lhe razão, e uma soma de compensação cujo valor não foi revelado, passando a ser considerada co-compositora, a par de Richard Wright - aliás, desde 2005 as novas edições do álbum trazem exactamente isso escrito nos créditos.
E embora normalmente este tipo de recursos judiciais sejam um abuso e tentativas de sacar umas coroas não merecidas, neste caso há que dá a mão à palmatória: a voz de Clare, e a performance que idealizou e concretizou, são partes fundamentais na definição do "grande espectáculo no céu". E.M. 


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