It's a one time thing
It just happens a lot

Suzanne Vega

terça-feira, 19 de maio de 2015

Vozes femininas de arrepiar mas sem palavras 

Parte 3: Robin Clark, Alive and kicking (Simple Minds)



António Sérgio (vénia) é, apenas, a personalidade mais importante da história da rádio em Portugal. O Lobo da voz de baixo já não está connosco em corpo, mas a sua influência continua, agora que as gerações mais novas são levadas a ouvir os sons que ele fez descobrir aos jovens das décadas de 80 e 90 - por mim, sempre que "impinjo" Ghosts of american astronauts dos Mekons aos meus filhos, sinto um sopro do privilégio que foi poder ser um discípulo do Mestre.   
E uma das características fulcrais de António Sérgio, avançadas pela sua companheira Ana Cristina Ferrão, era a ausência de snobismo musical. Isto é, o homem que conhecia todos os nichos de subsubgéneros e, dada a sua sombra tutelar, podia ser tentado a apenas ouvir e divulgar aquilo que o modelo bem-pensante consideraria de qualidade e não-comercial, estava afinal aberto a tudo o que lhe agradasse aos ouvidos, independentemente de quem viesse. E um dos exemplos que Ana Cristina desvenda é que António Sérgio adorava Ouragan, um pedaço de electro-pop descarado cantado em 1986 pela princesa Stephanie do Mónaco, numa das muitas carreiras que iniciou e não prolongou.  
Vem isto tudo a propósito de Alive and kicking, dos Simple Minds. Lembro-me perfeitamente da primeira vez que a ouvi no mítico Som da Frente na Rádio Comercial. E de ter ficado espantado por ouvi-la lá. Explicando: o grupo liderado por Jim Kerr tinha lançado uma meia dúzia de discos de post rock de apelo limitado, mas em 1985 Once Upon a Time já era o ponto de chegada do percurso que os levara afinal ao rock bombástico para estádios. E Alive and kicking, o single de avanço, rodava em todos os espaços radiofónicos mainstream e tops. Daí o meu espanto ao ouvir António Sérgio a passá-la. 
Claro que o Lobo tinha razão, e Alive and kicking é simplesmente espectacular, dentro das limitações da produção "larger than life" de meados da década de 80. Um dos pontos que mais me agradam e que fazem a diferença é a participação da vocalista norte-americana Robin Clark, esposa de Carlos Alomar, guitarrista de eleição que durante anos acompanhou David Bowie. 


Após o grande break, aí pelos 3h48s, Robin lança o seu vozeirão e carrega consigo a canção até ao final. Sem palavras, apenas com sons, faz-nos sentir efectivamente vivos e activos. E.M.   


Alive and Kicking, Simple Minds com Robin Clark (1985)


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