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Suzanne Vega

sexta-feira, 12 de junho de 2015

Dois filmes grandes sobre grandes museus


Estão ainda os dois documentários em exibição em Lisboa (no Monumental, claro), e, pelo que vi in loco, com surpreendentes boas audiências. O primeiro, e a minha escolha pessoal, é O Grande Museu, de Johannes Holzhausen, que aborda o Kunsthistorisches Museum, o vasto e majestoso repositório de arte europeia e nomeadamente austríaca situado em Viena. Não se vê um único visitante, não há qualquer voz off ou comentário, as palavras são poucas, mas o que mostra mostra mesmo o que é o museu estatal austríaco. É um documentário para quem gosta de museus, de museologia e de museografia.

Duas sequências apenas para exemplificar: um jovem funcionário, numa sala de reservas, pega na sua trotineta, e vai seguindo em cima dela sala após sala, durante quase um minuto, sempre seguido pela câmara, até que por fim chega a uma sala, pára, sai da trotineta, dirige-se a uma fotocopiadora... e tira de lá a singela fotocópia que tinha mandado imprimir do seu computador, tantas salas atrás. O que se vê aqui? Um museu fisicamente imenso, salas novecentistas desajustadas à dinâmica e às tecnologias modernas, salas a rebentar pelas costuras com reservas que, na sua maioria, nunca terão oportunidade de serem expostas.
Outra, na reunião de directores que antecede a visita do presidente da República, quando a (presumo) directora de relações exteriores e/ou protocolo lê exaustivamente todos os passos que serão dados pela directora do museu e pelo chefe do Estado. Aí se nota toda a aridez de uma relação que já nada tem a ver com arte, mas sim com poder, com representação, enfim, com quem, no fundo, representa o Estado que (cada vez menos) financia o museu.   









National Gallery, de Frederick Wiseman, é um documentário para quem gosta de quadros e de história da arte. Nas suas três horas de duração, torna-se, para o fim, entediante. Não está em causa a qualidade de muitos dos curadores e o que dizem, nem a forma quase pictórica com que o público é filmado, mas perde na comparação com O Grande Museu, porque se compraz na palavra, nas palavras, na teoria, na embriaguez dos grandes mestres, e esquece de mostrar o que Holzhausen intuiu: que são as pessoas, os funcionários, os seus passos, as paredes, os silêncios, que fazem também um museu. E.M.

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