Dois filmes grandes sobre grandes museus
Estão ainda os dois documentários em exibição em Lisboa (no Monumental, claro), e, pelo que vi in loco, com surpreendentes boas audiências. O primeiro, e a minha escolha pessoal, é O Grande Museu, de Johannes Holzhausen, que aborda o Kunsthistorisches Museum, o vasto e majestoso repositório de arte europeia e nomeadamente austríaca situado em Viena. Não se vê um único visitante, não há qualquer voz off ou comentário, as palavras são poucas, mas o que mostra mostra mesmo o que é o museu estatal austríaco. É um documentário para quem gosta de museus, de museologia e de museografia.
Duas sequências apenas para exemplificar: um jovem funcionário, numa sala de reservas, pega na sua trotineta, e vai seguindo em cima dela sala após sala, durante quase um minuto, sempre seguido pela câmara, até que por fim chega a uma sala, pára, sai da trotineta, dirige-se a uma fotocopiadora... e tira de lá a singela fotocópia que tinha mandado imprimir do seu computador, tantas salas atrás. O que se vê aqui? Um museu fisicamente imenso, salas novecentistas desajustadas à dinâmica e às tecnologias modernas, salas a rebentar pelas costuras com reservas que, na sua maioria, nunca terão oportunidade de serem expostas.
Outra, na reunião de directores que antecede a visita do presidente da República, quando a (presumo) directora de relações exteriores e/ou protocolo lê exaustivamente todos os passos que serão dados pela directora do museu e pelo chefe do Estado. Aí se nota toda a aridez de uma relação que já nada tem a ver com arte, mas sim com poder, com representação, enfim, com quem, no fundo, representa o Estado que (cada vez menos) financia o museu.
Já National Gallery, de Frederick Wiseman, é um documentário para quem gosta de quadros e de história da arte. Nas suas três horas de duração, torna-se, para o fim, entediante. Não está em causa a qualidade de muitos dos curadores e o que dizem, nem a forma quase pictórica com que o público é filmado, mas perde na comparação com O Grande Museu, porque se compraz na palavra, nas palavras, na teoria, na embriaguez dos grandes mestres, e esquece de mostrar o que Holzhausen intuiu: que são as pessoas, os funcionários, os seus passos, as paredes, os silêncios, que fazem também um museu. E.M.
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