It's a one time thing
It just happens a lot

Suzanne Vega

quinta-feira, 16 de abril de 2015

E o pior concerto?...

Ah, rapazes, eu estive bem umas três horas à espera que Michelle Shocked se dignasse arrastar o esqueleto até ao palco do Rock Rendez Vous (a mítica sala de espectáculos dos anos 80 ali à Rua da Beneficência, em Lisboa), quando já toda a gente lhe queria enfiar a guitarrinha pelas goelas abaixo, e recebeu um curso intensivo de insultos em português.
E em dezembro de 2005 tive a triste experiência de ir a um "concerto" dos Black Eyed Peas no Pavilhão Atlântico. Do imenso nevoeiro que depois me fez bloquear quase todas as memórias dessa noite trágica, ainda se escapa a imagem de Fergie a roçar o bumbum no palco e will.i.am a gritar "Benfica, Benfica!". O horror, o horror...
Mas, de novo, se tivesse que escolher um espectáculo apenas como o pior que vi até hoje, creio que iria pelo dos Transvision Vamp. Novembro de 89, de novo no Pavilhão dos Belenenses (onde vi, como descrevi em post anterior, o melhor concerto da minha vida, dos The Jesus & Mary Chain, e outros muito bons, como o dos Radiohead exactamente antes de alcançarem o estrelato). 
Era daquelas noites em que os dados são negativos à partida. Um pavilhão cheio, suor por todo o lado, irrespirável, más vibrações no ar. Depois entram os Transvision Vamp: a lourinha platinada Wendy James e os seus funcionários. Eles tocavam mal, as canções que em disco ainda passavam, de um rockabilly modernizado, ali perdiam toda a piléria. Em palco estavam-se marimbando para quem estava cá em baixo, e na plateia abundavam os grunhos a gritar para a vocalista mostrar as mamas. Ela não cantava grande coisa, e após ver no que se tinha metido em Lisboa nem sequer o tentou, entretendo-se a mandar vir com os que a aborreciam, parecendo uma peixeira de Manchester. O som estava péssimo. 
Estive lá até ao fim do concerto? Estive, pois acompanhava um amigo que estava a fazer a reportagem para um jornal, e que escreveu uma bela prosa de base sociológica sobre aquele circo. Nunca deixei de ter pena dos que pagaram para ir ver aquela vergonha, e quando pouco depois os Transvision Vamp deram a alma ao criador fiquei aliviado. Anos mais tarde Wendy James conseguiu que Elvis Costello lhe escrevesse um disquinho inteiro (Now Ain't the Time for Your Tears, de 1993). Não foi a lado nenhum. Quem diria. E.M.


1 comentário:

  1. Que giro; estive tanto no RRV a ver a Michelle Shocked (tenho memória de ter gostado da experiência) como nos Belenenses com os Transvision Vamp, também à borla a acompanhar um amigo jornalista (que na altura escrevia para o Blitz) :-)

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