It's a one time thing
It just happens a lot

Suzanne Vega

segunda-feira, 27 de abril de 2015

Vozes femininas de arrepiar mas sem palavras

Parte 1: Yannick Étienne, Avalon (Roxy Music)


A Rádio Comercial efectuou em 1982 um concurso em que oferecia exemplares do novíssimo álbum dos Roxy Music, Avalon. Só tinha que se mandar um postal com uma frase a definir o disco. Nunca me esqueci da frase vencedora: "Música de veludo numa embalagem de cetim." E era mesmo. O último registo oficial de Bryan Ferry sob o nome da banda é um pedaço de pop tão elegante que só lhe faltava vir com um martini e uma cigarrilha. O tema-título é uma espécie de electro bossa-nova, com alguns requintes tropicais, pelo menos do que alguém tão intrinsecamente british como o vocalista podia considerar tropical. Mas o que eleva o tema ao paraíso musical é a presença, fortíssima no final da canção, da vocalista Yannick Étienne.


Pouco se sabe dela, para além de que é haitiana e que estava com uma banda a gravar umas demos no mesmo estúdio onde os Roxy Music gravavam o álbum - o Compass Point, em Nassau, nas Bahamas. Phil Manzanera, o guitarrista, conta que já estava o disco terminado, mas Avalon, a canção, não funcionava. Voltaram a entrar em estúdio e regravaram-na, com novo ritmo. Mas ainda faltava qualquer coisa. Foi quando Bryan Ferry ouviu Yannick Étienne a cantar. Disse: "Que voz espantosa!" Convidaram-na, e o resto é história. Yannick tem uma voz de soprano maravilhosa, que utiliza apenas como um instrumento, sem palavras, quase como se fosse um pássaro nocturno numa ilha caribenha. Ela não sabia falar um palavra de inglês, pelo que teve que ser o seu namorado a traduzir aquilo que os britânicos desejavam que ela fizesse. O feeling fez tudo. Quando chegamos ao fim de Avalon, não nos lembramos já de Bryan Ferry, só de Yannick. Isso, meus senhores, é magia. E.M.

Avalon, Roxy Music com Yannick Étienne (1982)
 

Sem comentários:

Enviar um comentário